Em congresso
da Abraji, magistrado critica demonização de sua imagem e foro privilegiado a
políticos
SÃO PAULO —
O juiz federal Sérgio Moro defendeu a publicidade das informações investigadas
na Operação Lava-Jato como instrumento de "democratização do poder" e
criticou a prerrogativa de foro privilegiado. Para Moro, o foro a políticos com
mandato fere o princípio da igualdade.
As
declarações foram feitas pelo juiz nesta sexta-feira durante o 10º Congresso
Internacional de Jornalismo Investigativo, da Abraji, em São Paulo. Em
entrevista ao jornalista Roberto D´ávila, da Globonews, Moro criticou a
"demonização" de sua imagem por setores insatisfeitos pela maneira
que ele conduz o julgamento das ações.
- Não sou
nenhuma besta fera.
Para Moro, a
ampla publicidade de julgamentos criminais é um dever constitucional ainda mais
em casos envolvendo a administração pública.
- Defendemos
que os processos devam ser públicos, principalmente quando envolve a
administração pública, até porque permite um escrutínio da imprensa. - afirmou
o magistrado completando: - Quanto maiores poderes, maiores responsabilidades.
Os governantes tem mais poder e com isso mais responsabilidades.
VAZAMENTO
No início da
semana, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Secretaria de Comunicação
Social (Secom), Edinho Silva, criticaram o “vazamento seletivo” do conteúdo da
delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC.
O juiz fez
ainda críticas ao foro privilegiado. Para Moro, o foro a políticos com mandato
fere o princípio da igualdade. Ele criticou o uso da prerrogativa como
instrumento para causar morosidade aos processos penais.
— Vejo este
instituto não muito com viés positivo porque é contrário ao princípio da
igualdade. Pensando o foro privilegiado como um forma de maior controle (da
administração pública) é positivo. Mas pensando em outra forma, como um
mecanismo de proteção (de figuras públicas), eu tenho dúvida da sua validade.
Como eu gostava muito de revista em quadrinho, lembro daquelas fases do
Homem-Aranha onde dizia "quanto maior o poder, maior a
responsabilidade". Acho que o sistema tem que ser construído em cima disso
— declarou o juiz.
Moro
defendeu ainda a publicação das informações investigadas na Operação Lava-Jato
como instrumento de “democratização do poder”. Para Moro, esta ampla divulgação
é um dever constitucional, ainda mais em casos envolvendo a administração
pública.
— Defendemos
que os processos devam ser públicos, principalmente quando envolve a
administração pública, até porque permite um escrutínio da imprensa — afirmou o
magistrado, completando: — Quanto maiores poderes, maiores responsabilidades.
Os governantes têm mais poder e com isso mais responsabilidades.
O juiz se
negou a responder sobre questões relativas ao julgamento da Lava-Jato.
Questionado se aceitaria falar do julgamento após a conclusão, ele se mostrou
aberto, mas disse que não era o momento para se pensar nisso.
— A única
certeza é que quero tirar umas longas férias depois disso tudo.
Em relação
às delações, Moro destacou que "toda delação depende de prova" para
ser usada como peça de acusação.
No final da
palestra, Moro foi questionado pela plateia se um dos seus objetivos das
investigações da Lava-Jato seria "pegar" o ex-presidente Lula. O
magistrado disse que não cabe a ele dizer quem "deve ou não" ser
investigado já que ele não é condutor das investigações. O juiz também não quis
comentar sobre os comentários da presidente Dilma Rousseff, que declarou não
respeitar delatores:
— Acho que a
presidente merece respeito da parte minha e de todas as pessoas. Não me
sentiria confortável em rebater um comentário da presidente.
Antes da
palestra, Moro defendeu o jornalismo investigativo como instrumento
fiscalizador da sociedade. O magistrado afirmou que o jornalista tem a
capacidade de antecipar informações relevantes a investigações em curso.
— O
profissional de imprensa não tem os mesmos instrumentos da polícia, mas muitas
das vezes tem uma certa flexibilidade. Essa flexibilidade dá a capacidade de
buscar informações e colher dados antecipando até mesmo as investigações da
Justiça — afirmou Moro.
Moro foi um
dos convidados a conversar com os jornalistas nesta sexta-feira. A operação,
que levou à prisão políticos e empresários, foi tema ainda de duas mesas de
debates jornalísticos. No sábado, será a vez do jornalista francês Riss, editor
da revista Charlie Hebdo, falar sobre o ataque terrorista que matou 12
integrantes da revista em janeiro passado. Também fará palestra sobre
jornalismo investigativo, no sábado, Dana Priest, do Washington Post.
Advogados
criticam atuação de juiz
Também
durante o congresso da Abraji, os advogados criminalistas Fabio Tofic e David
Azevedo criticaram a condução de Moro durante o julgamento da operação
Lava-Jato. Tofic e Azevedo, que defendem acusados de corrupção na Petrobras,
afirmam que o juiz desequilibra o julgamento em favor da acusação. Eles
atacaram a maneira em que foram fechados os acordos de delação premiadas
fechados pelo Ministério Público Federal.
Azevedo, que
defende o empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, argumentou
que o direito de defesa foi "constantemente" prejudicado durante o
andamento do processo. Ele acrescentou que Sergio Moro demorou para avaliar
pedidos da defesa e teria imposto prazo curtos para colher depoimento de
testemunhas arroladas no exterior. Ao mesmo tempo em que permitia o MPF a
apresentar novos documentos mesmo fora do prazo legal.
- A
competência do juizo está invalidada na origem. O juiz errou ao determinar que
cabia ao foro de Curitiba julgar a ação, apesar de que maioria dos supostos
crimes teria se passado no Rio. Quando quis para si o julgamento, Moro já
demonstrou que queria julgar este caso. Legalmente, rompeu sua imparcialidade
frente ao processo.
Para David Azevedo, o MPF "praticamente" obriga os
acusados a deletar como condição para conseguir a liberdade.
Para o criminalista Fábio Tofic o instituto da delação
premiada é válido e legal, mas virou um instrumento de coerção da acusação
durante a Lava-Jato.
- Eu sou a favor da delação premiada. porque é um instrumento
ético. Porque permite o homem um reposicionamento na sua formulação ética. É um
instrumento democrático. Mas como foi conduzida na Lava-Jato é equivocada e
errada. O MPF praticamente intimida um acusado a fazer a delação. Há casos que
nos foram relatados, em que um réu recebeu a ameça de ver sua filha presa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente esta matéria!