Gesto seria
tentativa de golpe malfeita em gestão marcada por polêmica, como proibição de
brigas de galo e de biquíni. Há 25 anos, ex-presidente e ex-prefeito de SP
morreu

No dia 25 de
agosto de 1961, Jânio Quadros era um presidente cansado de administrar o Brasil
desgovernado por "um Congresso de imorais". Não pensou duas vezes:
enviou a esse Congresso uma carta-renúncia, seguiu para São Paulo e depois
pegou o rumo de Londres. Jânio Quadros renunciava ao mais alto posto político
do país, depois de sete meses no poder.
Ele achava
que em três meses o povo exigiria sua volta, mas o ardil político acabou não
dando em nada. Jânio Quadros entrou para a História como o presidente que renunciou,
sucumbindo a "forças terríveis" que se levantavam contra ele,
tornando-se refém da paranoia.
Até hoje, há
quem ache que Jânio foi frágil diante das pressões típicas do cargo. Mas também
há quem acredite que ele estava mesmo preparando um golpe de Estado. Essa
versão foi levantada por Carlos Lacerda, na época governador da Guanabara.
Ao longo de
seu curto governo, Jânio tomou algumas decisões que provocaram polêmica, como a
proibição de biquíni nas praias brasileiras, corrida de cavalo e briga de galo,
esta última em 18 de maio de 1961. As rinhas, que envolviam apostas em
dinheiro, eram muito comuns no país.
Outra medida
polêmica foi a condecoração de Ernesto "Che" Guevara, então ministro
da Indústria e Comércio de Cuba, em 19 de agosto. O gesto desagradou a seus
aliados da UDN e aos militares: vários deles chegaram a devolver suas
condecorações.
De qualquer
forma, o presidente que se imaginou insubstituível foi substituído, após alguns
percalços, por seu sucessor constitucional, João Goulart, num regime de
parlamentarismo que durou pouco, mas cujo fim abriria uma brecha para o golpe
militar. A atrapalhada manobra política afastou Jânio do poder por décadas.
Jânio até
tentou eleger-se governador de São Paulo em 1962, mas foi derrotado.
Seguiram-se o sombrio 1964 e a cassação de seus direitos políticos pelos
militares durante dez anos. Só em 1985 Jânio Quadros voltou a ocupar um cargo
político, como prefeito de São Paulo.
Na ocasião, ele e Fernando Henrique
Cardoso, então candidato a prefeito pelo PMDB, se envolveram numa polêmica que
entrou para o folclore político.
Na véspera
das eleições, as primeiras para prefeitos das capitais desde a ditadura,
Fernando Henrique, a convite de jornalistas, sentou na cadeira do então
prefeito Mário Covas, a quem pretendia suceder. Resultado: perdeu o pleito por
pequena diferença para o adversário Jânio Quadros (PTB-PFL), que não poupou o
gesto precipitado: “Gostaria que os senhores testemunhassem que estou
desinfetando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram”, declarou na sua
posse.
Jânio morreu
no dia 16 de fevereiro de 1992, às 22h30m, no Hospital Albert Einstein, em São
Paulo. O boletim médico apontou insuficiência respiratória aguda, infecção
pulmonar, insuficiência renal aguda e acidente vascular cerebral. Por desejo de
Jânio, suas córneas foram doadas. A família dispensou coras e pediu que o
dinheiro das flores fosse doado a um abrigo de mães solteiras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente esta matéria!