domingo, 24 de abril de 2016

Lava-Jato está no caminho de Temer à Presidência

Nome do vice-presidente aparece quatro vezes nas investigações desde o início da operação, em 2014


BRASÍLIA — O vice-presidente Michel Temer (PMDB), que já está se preparando para assumir o lugar da presidente Dilma Rousseff (PT) caso o impeachment seja aprovado pelo Senado, tem a Lava-Jato em seu caminho. O nome dele apareceu pelo menos quatro vezes nas investigações sobre corrupção desde o início da operação, em março de 2014. Temer foi citado por dois delatores: o senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) e o lobista Júlio Camargo, o mesmo que confessou pagamento de propina de US$ 5 milhões para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Procurado pelo GLOBO, Antônio Mariz, advogado de Michel Temer, reconheceu as citações, mas negou qualquer irregularidade vinculada ao vice.

O nome do vice-presidente está registrado também numa planilha apreendida na sétima fase da Operação Lava-Jato com um dos ex-executivos da empreiteira Camargo Corrêa e numa troca de mensagens por telefone entre Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e Eduardo Cunha. Nos próximos dias, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá decidir se pede ou não ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito para apurar as acusações contra o vice-presidente, especialmente a partir da delação de Delcídio Amaral. A referência a Temer já foi enviada ao STF para ser juntada ao maior dos inquéritos da Lava-Jato na Corte. O processo tem 39 pessoas sob investigação e, por enquanto, o vice-presidente ainda não é formalmente investigado.

Uma das primeiras referências a Temer apareceu num depoimento de Júlio Camargo ao grupo de trabalho da Procuradoria-Geral da República responsável pelas investigações sobre o suposto envolvimento de políticos com fraudes na Petrobras. Ao falar sobre o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, que o teria ajudado a repassar a propina a Eduardo Cunha, Camargo mencionou também supostas ligações de Baiano com Temer e outros políticos do PMDB.

“Havia comentários de que Fernando Soares era representante do PMDB, principalmente de Renan, Eduardo Cunha e Michel Temer. E que tinha contato com essas pessoas de irmandade”, disse Camargo aos procuradores.

A Polícia Federal também se deparou com o nome do vice-presidente numa planilha apreendida com executivos da Camargo Corrêa, a primeira empreiteira a admitir seu envolvimento em fraudes na Lava-Jato e em outras áreas da administração pública federal.

EM PLANILHAS, REFERÊNCIAS A 2 OBRAS

O nome de Michel Temer aparece na planilha associado a duas quantias de US$ 40 mil e a duas obras: de asfaltamento e de duplicação de rodovias em Araçatuba e Praia Grande (SP), executadas pela Camargo Corrêa. Cada uma teria custado US$ 18 milhões. Também há nomes de outros políticos de vários partidos associados a valores e obras. Uma cópia do documento foi apreendida na Operação Castelo de Areia, anulada no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A Castelo de Areia deverá ser tema de investigação da Lava-Jato. Nas preliminares de um acordo de delação com o Ministério Público Federal, Léo Pinheiro foi perguntado sobre a trama que teria enterrado a operação, segundo disse uma fonte ao GLOBO. A Procuradoria-Geral da República nega que tenha assinado acordo de delação com Léo Pinheiro.

R$ 5 MILHÕES PARA TEMER

Mensagens no celular de Pinheiro indicam que a empreiteira pagou R$ 5 milhões a Temer. Numa conversa com o empresário, Eduardo Cunha cobra a liberação de um pagamento a ele e cita Temer: “Eles tão chateados porque Moreira conseguiu de você para Michel cinco paus e vc já depositou inteiro e eles que brigaram com Moreira vc adia, é isso. Vc dar, ninguém tem nada com isso, é só a preferência”. Em resposta, Pinheiro diz: “Te explico pessoalmente. O assunto foi GRU”. Para os investigadores, cinco paus seriam R$ 5 milhões. Moreira seria o ex-ministro Moreira Franco (PMDB), e GRU, o aeroporto de Guarulhos.

Em delação negociada no início deste ano, o senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) apontou Temer como o responsável pela indicação de Jorge Zelada e João Augusto Henriques para a diretoria Internacional da Petrobras, na vaga do ex-diretor Nestor Cerveró. João Henriques foi o primeiro a ser indicado, mas, por problemas no Tribunal de Contas da União (TCU), a vaga foi ocupada por Zelada. Os dois, Zelada e Henriques, foram condenados por corrupção na Petrobras. Zelada, a 12 anos e dois meses, e Henriques, a seis anos e oito meses de prisão.

Delcídio cita Temer ao falar sobre fraudes na compra de etanol de 1997 a 2001, período em que Henriques presidia a BR Distribuidora, ligada a Petrobras.


Na última sexta, o nome do vice surgiu na proposta de delação premiada de José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix. Segundo a revista “Época”, o empresário contou ter pago R$ 1 milhão a um emissário de Temer como “agradecimento” por participar de uma licitação de R$ 162 milhões da Eletronuclear para operar na usina de Angra 3.

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