Valdir Simão
quer instalar sistema de controle ‘em tempo real’ dos benefícios pagos

BRASÍLIA - O
novo ministro do Planejamento, Valdir Simão, afirmou ao GLOBO que quer
aproveitar sua experiência adquirida no comando da Controladoria-Geral da União
(CGU) para passar um pente-fino em todos os programas sociais do governo
federal. Em sua primeira entrevista exclusiva no cargo, ele levantou suspeita
de irregularidades no seguro defeso (pago a pescadores em períodos de pesca
proibida de algumas espécies) e seguro-desemprego. Simão quer instalar um
sistema de monitoramento e controle “em tempo” real de todos os benefícios
pagos pelo governo para evitar fraudes. O ministro é favorável a uma ampla
reforma da Previdência, para os novos trabalhadores, com regras de transição
para os atuais. Ele defendeu ainda uma discussão sobre o fim da vinculação dos
benefícios previdenciários ao salário-mínimo, sob alegação de que a lei prevê apenas
a reposição da inflação. Simão admitiu ainda que a meta de superavit fiscal
primário de 0,5% do PIB em 2016 é “ousada”, mas que o governo fará de tudo para
honrar esse compromisso.
A equipe
econômica conseguirá cumprir a meta de superávit fiscal primário de 2016?
A meta é
bastante ousada, e nós temos de persegui-la. Para isso, além de buscar maior
eficiência na gestão para que nós possamos continuar nesse processo de redução
de gastos, precisamos discutir reformas estruturais, em especial a reforma da Previdência.
Mas o que
fazer para atingir a meta?
Vamos
analisar todas as possibilidades. Do lado da receita, precisamos contar com a
melhoria da gestão e da arrecadação. A Fazenda e a Receita Federal têm
discutido quais são as alternativas possíveis. Temos hoje uma dívida ativa
substancial que precisa ser recuperada e várias propostas de mudanças
legislativas, sendo que a mais importante talvez seja a da CPMF, que está
tramitando no Congresso.
Mas a
aprovação da CPMF não será suficiente.
Por isso,
temos de trabalhar também do lado da despesa. De um lado, temos de continuar o
esforço de contenção de despesas discricionárias. Ao mesmo tempo, precisamos
dar mais eficiência à gestão das políticas. Quando você aperfeiçoa a gestão,
você também tem resultado nas despesas obrigatórias. Um exemplo, se eu demoro muito
para conceder um benefício previdenciário, depois eu tenho de pagar essa
despesa retroativamente com atualização. Também é preciso aperfeiçoar o
controle do Estado sobre essas políticas, com cruzamento de dados. A CGU tem
essa experiência. A integração das informações das diversas políticas públicas
é central para que possamos identificar as pessoas que não atendem os critérios
de elegibilidade.
Como a CGU
pode ajudar?
Eu pretendo
usar a auditoria governamental que a CGU faz para avaliar a qualidade de execução
e evitar desperdícios e fraudes. A CGU tem um olhar muito preciso sobre como os
recursos são aplicados, lembrando que parte das políticas é executada por
estados e municípios. A ideia é criar um ambiente de monitoramento e de
controle em tempo real de todos os programas sociais do governo.
Quais
programas serão monitorados?
Todos, Fies,
Bolsa Família, benefícios previdenciários. Todos precisam ser monitorados para
verificar sua eficiência e se eles estão fazendo as entregas necessárias.
Há suspeita
sobre algum programa específico?
Seguro
defeso e seguro-desemprego costumam ter altos índices de fraudes.
Qual é a sua
opinião sobre a desvinculação do salário-mínimo dos benefícios?
Precisamos
discutir isso também. Acho que devemos ter um modelo de reposição que garanta a
capacidade de compra, ou seja, a reposição da inflação. É isso que prevê a lei,
o INPC. Como nós temos uma parcela significativa dos benefícios que tem como
referência o próprio salário-mínimo, é claro que, com o ganho que o
salário-mínimo teve nos últimos anos, isso tem impacto maior. Mas, no modelo
atual, nós temos nos próximos anos praticamente o reajuste da inflação, o que é
correto.
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