Presidentes
da Câmara e do Senado, antigos desafetos, se articulam para fortalecer PMDB e
pressionar governo

BRASÍLIA — A
eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara e o
esvaziamento do PT na Mesa Diretora da Casa devem consolidar uma nova
correlação de forças do governo com o Congresso. Com o controle das duas Casas,
no caso da Câmara, à revelia da vontade do Palácio do Planalto, integrantes da
cúpula do PMDB defendem que o partido atue para se desvincular do governo
petista e reconstrua sua imagem de forma mais independente.
Para
dificultar ainda mais a situação do Palácio do Planalto, os antigos desafetos
Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ensaiam uma
reaproximação para trabalharem mais afinados, sob a perspectiva de que, unidos,
formam um ente político mais poderoso. O ponto comum entre eles é o crescente
incômodo em relação ao PT.
Os dois já
conversaram sobre o assunto e acertaram uma atuação mais próxima e articulada.
O objetivo, segundo peemedebistas da cúpula do partido, é a sobrevivência
política para os próximos anos. O diagnóstico é que o desgaste do governo Dilma
Rousseff e do PT, somado às tentativas de assessores palacianos de diminuir a
dependência do PMDB, a partir do fortalecimento de outros blocos de aliados,
podem inviabilizar a permanência do partido no núcleo de poder.
O alerta na
cúpula do PMDB foi ligado quando se percebeu o fortalecimento dos ministros das
Cidades, Gilberto Kassab (PSD), e da Educação, Cid Gomes (PROS), como polos
alternativos à prevalência peemedebista na relação com o governo. Por isso, a
parceria entre os presidentes da Câmara e do Senado, neste primeiro momento,
tem o objetivo de impedir o surgimento de novas legendas — como o PL, cuja
recriação vem sendo organizada por Kassab. Cunha e Renan temem que essa nova
agremiação atue como contraponto à hegemonia do PMDB na base governista.
— Minha
relação com Renan está boa, estamos conversando direto. O PMDB, quando é
atacado, se une. Nosso foco agora é acabar com essa história de partidos
fictícios. Estamos sob ataque, e o PMDB vai reagir unido — disse Cunha ao
GLOBO.
SENADO: PMDB
RESISTE A ACEITAR CARGO DE LÍDER DO GOVERNO
Como forma
de marcar a posição de independência também no Senado — a Câmara já tem adotado
essa postura há algum tempo —, caciques peemedebistas têm defendido que o
partido não mais assuma a função de liderar o governo na Casa. Alguns senadores
do PMDB foram sondados para a tarefa, mas nenhum se dispôs a aceitá-la.
— De que
adianta uma passagem em camarote de primeira classe no Titanic? É um navio
condenado a afundar, o melhor a fazer é desembarcar dele — diz um peemedebista
da cúpula.
Líderes do
partido afirmam que a próxima etapa será aguardar os resultados da Operação
Lava-Jato e, a partir dessa depuração, trabalhar na formação de uma nova cara
do partido. Uma das providências defendida por alguns peemedebistas, mas que
encontra resistências internas, seria a saída do vice-presidente da República,
Michel Temer, da presidência da legenda.
— Ele é
cobrado dos dois lados e acaba não agradando ninguém. Quando tem de atender o
governo, deixa a bancada insatisfeita; quando atua pelo PMDB, é o governo que
não gosta. É incompatível continuar como presidente do partido e vice de Dilma
— resume um peemedebista.
Historicamente,
Temer sempre foi visto como um representante da bancada do partido na Câmara,
mas nunca foi bem aceito pela ala do Senado. Ainda assim, há 14 anos consegue
se eleger presidente nacional da legenda.
Enquanto o
PMDB planeja sua reformulação, o PT bate cabeça e vive atritos com o principal
aliado. Depois de trabalhar fortemente contra a eleição do deputado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara, e ser derrotado na disputa, nesta
primeira semana de Congresso, o PT sofreu outro revés. Em uma demonstração de
força, Cunha conseguiu isolar os petistas e aprovou em plenário a
admissibilidade da reforma política, que vinha sendo mantida há meses pelo PT
nas gavetas da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
Logo depois,
os petistas enfrentaram mais um contratempo: a criação de uma CPI para
investigar as denúncias de corrupção na Petrobras. A ação, conduzida pelos
partidos de oposição e com apoio de deputados da base, contou com o patrocínio
de Cunha, que afirmou diversas vezes, durante sua campanha à presidência da
Câmara, ser favorável à CPI.
Em um gesto
de que pretende melhorar a relação com o PMDB na Câmara, o Planalto demitiu
Henrique Fontana (PT-RS) da função de líder do governo, que havia se desgastado
com Cunha, e nomeou José Guimarães (PT-CE), que assumiu com acenos ao aliado. O
governo pode tentar uma composição com Cunha. Na última quinta-feira, a
presidente Dilma Rousseff chamou os presidentes das duas casas e Temer, para
“quebrar o gelo”.
Nos seus
primeiros dias de volta ao Congresso, Cunha deixou claro que pretende se
afirmar em um papel de protagonismo, que não deixa espaço para o PT — ao menos
enquanto o Palácio do Planalto se mantiver na posição de vê-lo como adversário
preferencial.
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