domingo, 8 de fevereiro de 2015

Cunha e Renan se unem para esvaziar poder do PT

Presidentes da Câmara e do Senado, antigos desafetos, se articulam para fortalecer PMDB e pressionar governo

BRASÍLIA — A eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara e o esvaziamento do PT na Mesa Diretora da Casa devem consolidar uma nova correlação de forças do governo com o Congresso. Com o controle das duas Casas, no caso da Câmara, à revelia da vontade do Palácio do Planalto, integrantes da cúpula do PMDB defendem que o partido atue para se desvincular do governo petista e reconstrua sua imagem de forma mais independente.

Para dificultar ainda mais a situação do Palácio do Planalto, os antigos desafetos Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ensaiam uma reaproximação para trabalharem mais afinados, sob a perspectiva de que, unidos, formam um ente político mais poderoso. O ponto comum entre eles é o crescente incômodo em relação ao PT.

Os dois já conversaram sobre o assunto e acertaram uma atuação mais próxima e articulada. O objetivo, segundo peemedebistas da cúpula do partido, é a sobrevivência política para os próximos anos. O diagnóstico é que o desgaste do governo Dilma Rousseff e do PT, somado às tentativas de assessores palacianos de diminuir a dependência do PMDB, a partir do fortalecimento de outros blocos de aliados, podem inviabilizar a permanência do partido no núcleo de poder.

O alerta na cúpula do PMDB foi ligado quando se percebeu o fortalecimento dos ministros das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), e da Educação, Cid Gomes (PROS), como polos alternativos à prevalência peemedebista na relação com o governo. Por isso, a parceria entre os presidentes da Câmara e do Senado, neste primeiro momento, tem o objetivo de impedir o surgimento de novas legendas — como o PL, cuja recriação vem sendo organizada por Kassab. Cunha e Renan temem que essa nova agremiação atue como contraponto à hegemonia do PMDB na base governista.
— Minha relação com Renan está boa, estamos conversando direto. O PMDB, quando é atacado, se une. Nosso foco agora é acabar com essa história de partidos fictícios. Estamos sob ataque, e o PMDB vai reagir unido — disse Cunha ao GLOBO.

SENADO: PMDB RESISTE A ACEITAR CARGO DE LÍDER DO GOVERNO
Como forma de marcar a posição de independência também no Senado — a Câmara já tem adotado essa postura há algum tempo —, caciques peemedebistas têm defendido que o partido não mais assuma a função de liderar o governo na Casa. Alguns senadores do PMDB foram sondados para a tarefa, mas nenhum se dispôs a aceitá-la.
— De que adianta uma passagem em camarote de primeira classe no Titanic? É um navio condenado a afundar, o melhor a fazer é desembarcar dele — diz um peemedebista da cúpula.

Líderes do partido afirmam que a próxima etapa será aguardar os resultados da Operação Lava-Jato e, a partir dessa depuração, trabalhar na formação de uma nova cara do partido. Uma das providências defendida por alguns peemedebistas, mas que encontra resistências internas, seria a saída do vice-presidente da República, Michel Temer, da presidência da legenda.

— Ele é cobrado dos dois lados e acaba não agradando ninguém. Quando tem de atender o governo, deixa a bancada insatisfeita; quando atua pelo PMDB, é o governo que não gosta. É incompatível continuar como presidente do partido e vice de Dilma — resume um peemedebista.
Historicamente, Temer sempre foi visto como um representante da bancada do partido na Câmara, mas nunca foi bem aceito pela ala do Senado. Ainda assim, há 14 anos consegue se eleger presidente nacional da legenda.

Enquanto o PMDB planeja sua reformulação, o PT bate cabeça e vive atritos com o principal aliado. Depois de trabalhar fortemente contra a eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara, e ser derrotado na disputa, nesta primeira semana de Congresso, o PT sofreu outro revés. Em uma demonstração de força, Cunha conseguiu isolar os petistas e aprovou em plenário a admissibilidade da reforma política, que vinha sendo mantida há meses pelo PT nas gavetas da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)

Logo depois, os petistas enfrentaram mais um contratempo: a criação de uma CPI para investigar as denúncias de corrupção na Petrobras. A ação, conduzida pelos partidos de oposição e com apoio de deputados da base, contou com o patrocínio de Cunha, que afirmou diversas vezes, durante sua campanha à presidência da Câmara, ser favorável à CPI.
Em um gesto de que pretende melhorar a relação com o PMDB na Câmara, o Planalto demitiu Henrique Fontana (PT-RS) da função de líder do governo, que havia se desgastado com Cunha, e nomeou José Guimarães (PT-CE), que assumiu com acenos ao aliado. O governo pode tentar uma composição com Cunha. Na última quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff chamou os presidentes das duas casas e Temer, para “quebrar o gelo”.
Nos seus primeiros dias de volta ao Congresso, Cunha deixou claro que pretende se afirmar em um papel de protagonismo, que não deixa espaço para o PT — ao menos enquanto o Palácio do Planalto se mantiver na posição de vê-lo como adversário preferencial.

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