segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Agenda de 2017 para o meio ambiente




Corremos sério risco de que o “La Niña”, fenômeno que esfria as águas do Pacífico, seja o evento mais significativo e contundente de 2017 no setor meio ambiente. Com Donald Trump, auto intitulado cético do clima, na presidência dos Estados Unidos, pouca coisa se pode esperar em termos de resoluções e pactos. E sim, é possível que ele retire seu país do Acordo de Paris conseguido a duras penas no fim do ano passado, o que vai jogar água fria na fervura da esperança de quem já estava acreditando numa nova ordem mundial com base em menos produção e consumo para baixar as emissões e diminuir os impactos ao meio ambiente.

A próxima Conferência das Partes (COP) vai acontecer em Fiji, uma nação-ilha do Pacífico que está na lista dos pequenos países que podem desaparecer do mapa com o degelo das calotas polares e, consequentemente, o aumento dos oceanos. O anúncio do local escolhido, feito em novembro pouco antes da COP-22 (que aconteceu em Marrakesh), encheu de orgulho e esperança os dirigentes do pequeno estado:

“Será a primeira vez que um pequeno Estado insular, um Estado do Pacífico, vai organizar uma COP", disse o Presidente da COP22 e o Ministro de Relações Exteriores de Marrocos, Sr. Salaheddine Mezouar, numa conferência de imprensa durante o evento em MarrakeshAo lado dele, durante uma coletiva de imprensa, o primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, declarou: "É uma grande responsabilidade para um pequeno Estado insular".

“Como pequeno estado insular do Pacífico, precisamos mostrar ao mundo os problemas que estamos enfrentando”, acrescentou ele.

Mas, antes de serem recebidos em Fiji, os países das Nações Unidas deverão acatar nova chamada da ONU para se reunir e debater sobre um tema que diz respeito de maneira intrínseca aos países-ilha. Vai acontecer de 5 a 9 de junho a Conferência das Nações Unidas sobre os oceanos, com o título “Nossos oceanos, nosso futuro: parceria para a Implementação do Objetivo de Desenvolvimento 14”,  que terá Suécia e Fiji como co-presidentes.  Essa reunião vai girar em torno do ciclo do declínio da saúde dos oceanos para que a Meta de Desenvolvimento Sustentável (SDG na sigla em inglês) número 14 seja efetivamente vista com a importância que merece.  Trata-se de uma das 17 metas estipuladas pelas Nações Unidas para serem alcançadas até 2030. Essa, de número 14, fala sobre a vida marinha.

Fora das reuniões de líderes, que nem sempre resolvem coisa alguma, é possível apenas imaginar que em 2017 os ambientalistas vão se preocupar mais e mais. Triste sina desses profissionais, que acabaram se tornando arautos de más notícias nos nossos tempos.

O jornal britânico “The Guardian”  de ontem trouxe uma reportagem que tem esse tom.  Para início de conversa, apesar de tantas reflexões nos encontros de líderes, há questões políticas e econômicas que sempre terão mais peso na hora de escolher entre preservar ou causar impacto em nome do desenvolvimento. 2017, por exemplo, vai ser o ano em que a perfuração do solo para obter gás de xisto – o chamado fracking – vai começar, para valer, na Inglaterra. Já há manifestantes na rua para denunciar o tremendo risco que essa atividade pode causar, como  a poluição dos lençóis aquíferos.  Apenas 17% dos britânicos estão a favor do fracking, mas quem liga?

Outro problema na capital londrina tem sido a poluição do ar, que tem matado – isso mesmo, matado – 40 a 50 mil pessoas por ano. Para acabar com isso, é preciso haver restrições para uso de combustíveis fósseis. Mas, quem se dispõe a isso, de fato?

No mundo, haverá mais e mais perdas de animais selvagens. Candidatos a extinção total neste ano: orangotango de Bornean, o tigre de China sul, a lontra gigante, o leopardo de Amur, o furão black-footed ea raposa de Darwin. Já se tem coisas demais que nos causam preocupações diárias, vamos focar nisso?

Nos Estados Unidos, muitos cientistas que dedicam parte de suas vidas a fazer pesquisas sobre alterações climáticas estão preocupados porque, com Trump no poder, menos subsídios terão. Ademais, esperam uma espécie de “caça às bruxas” em seus centros de estudo.

Aqui no Brasil, continuaremos com a luta para o fim do desmatamento e por mais consciência do setor agropecuário que anda devastando as florestas. Depois de anos em queda, segundo um artigo do  pesquisador Sênior do Imazon e mestre em Ciências Florestais pela Universidade Yale (EUA), Paulo Barreto, e de chegar a seu mínimo em 2012 de 4.571 km2, o desmatamento voltou a subir nos últimos três anos para um patamar acima de 5 mil km2. Entre 2014 e 2015, cresceu de 5.012 para 6.207, ou 24%.

Quando se pede mais consciência dos que usam e abusam da terra para seu próprio interesse de negócio, fala-se mais ou menos isso: a área desmatada mal usada é enorme. Em 2014, ainda segundo o artigo de Barreto, só na Amazônia havia dez milhões de hectares de pastos improdutivos, ou seja, sujos. O estudo foi feito pelo próprio governo e realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Embrapa.

Ao mesmo tempo, no setor da alimentação, a preocupação é enorme com o fim do Ministério de Desenvolvimento Agrário. Em entrevista recente ao site da ONG Articulação do Semi Árido, a antropóloga Maria Emilia Pacheco, primeira mulher a ocupar a presidência do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), analisou a chamada “MP da Reforma Agrária”. Trata-se de uma medida que pode bloquear o desenvolvimento da agricultura familiar no país.

“A medida vai afetar a vida nos assentamentos de reforma agrária, que altera o prazo de alienação da terra e que tem o envolvimento do poder público municipal (que passaria a selecionar as famílias beneficiárias dos programas de reforma agrária) através de chamadas públicas. E nessa versão preliminar da proposta não se fala na função social da terra. Há uma substituição da função social da terra para um sentido de exploração da terra, meramente econômico”, alerta ela.

Seguimos assim, entre as catástrofes ambientais e a irresponsabilidade de muitos, mesmo com alguns alertas importantes. Como exemplo de alerta, o último relatório do Banco Mundial que comprova a ligação inerente entre pobreza e mudanças climáticas e diz que se continuarmos agindo sem os cuidados necessários na hora de produzir e consumir, cem milhões de pessoas estarão na extrema pobreza em 2030 por causa das secas, tormentas, falta de biodiversidade. É uma escolha.

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