Presidente
do Senado adiou votação da proposta que muda meta fiscal para a próxima
terça-feira

BRASÍLIA - O
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), informou que nenhum dos 38
vetos presidenciais colocados em votação na sessão de terça-feira à noite foi
derrubado. Ele abriu no início da tarde de hoje a sessão para votar a proposta
que muda a meta fiscal de 2014 sob gritos e xingamentos de parlamentares da
oposição. Depois do bate-boca, Renan encerrou a sessão do Congresso e adiou
para a próxima terça-feira a votação. Segundo parlamentares, a ação é um sinal
para mostrar independência de que o Congresso não vai agir atropelado, por
imposição do Planalto.
O governo
esperava a aprovação hoje da redução da meta para anunciar a equipe econômica
com segurança nesta quinta-feira. A oposição conseguiu vencer na base da briga
regimental, mas a expectativa é de que a proposta seja aprovada na próxima
semana.
- Você é uma
vergonha! Cortar a minha palavra?! Tenho direito. Venha me tirar daqui! -
gritava Mendonça Filho, no microfone e depois que teve o som cortado.
- Cale-se!
Cale-se! - respondeu Renan.
O líder do
DEM subiu então à Mesa do Congresso. Embaixo, no Plenário, líderes da oposição,
como o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), gritavam:
- Você não
vai calar ninguém! - gritava Rubens Bueno, agitando os braços.
Depois, mais
calmo, Mendonça Filho disse que sempre foi respeitoso e que nunca iriam cassar
minha palavra.
- Não vim
aqui para me vender - disse ele.
Também mais
calmo, Renan disse que também "respeitava muito" o deputado Mendonça
Filho.
- Acho que
todos temos que pedir desculpas pelos excessos. Tão logo fui cobrado pelo
senador Aloysio, refiz a reabertura da sessão. Garanti a palavra a todos, em
todos os momentos. Não estaria aqui sentando nesta cadeira pata atropelar o
Regimento. O que podemos compatibilizar são os ânimos - disse Renan, mais
calmo.
Ao meio-dia,
numa manobra regimental, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que é relator do
projeto que trata da meta do superávit, abriu a sessão do Congresso com o
quorum da sessão do dia anterior, quando foram votados os vetos.
Ao chegar,
Renan foi questionado pela oposição sobre isso.
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- Não
poderia ter aberto a sessão. Isso é uma vergonha! - disse o líder do PSDB no
Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).
Ainda com o
clima mais calmo, Renan disse que iria aguardar 30 minutos a chegada dos
parlamentares, para ver se reabria oficialmente a sessão ou não. Passados 30
minutos, havia quorum: 125 deputados e 20 senadores, quando era necessários 85
e 14, respectivamente.
Quando Renan
anunciou a manutenção da sessão, os parlamentares da oposição reagiram. Então,
começaram os protestos, depois do arroubo de Mendonça Filho e de outros líderes
da oposição.
- Não se
pode colocar o dedo em riste para o presidente da Casa - disse o líder do
governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS).
- Que
tenhamos serenidade - acrescentou o líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA).
OPOSIÇÃO
RECORRE AO STF
Como
anunciaram na sessão do Congresso que acabou em bate-boca, os partidos de
oposição (PSDB, DEM, PPS e PSB) ingressaram nesta tarde, junto ao Supremo
Tribunal Federal (STF) com dois mandados de segurança pedindo a suspensão da
tramitação do projeto que muda a meta fiscal de 2014. Ontem, o PSDB já havia
ingressado com mandado de segurança no mesmo sentido.
Num dos
mandados, os líderes argumentam que a apreciação dos 38 vetos presidenciais em
cédula única atropelou o processo legislativo constitucional e desrespeitou o
direito de discussão dos assuntos. Segundo eles, o presidente do Congresso,
Renan Calheiros, cometeu "ato abusivo e inconstitucional".
REDUÇÃO DA
META PARA SUPERÁVIT PRIMÁRIO
Renan disse,
no início da sessão, que o Congresso aprovaria a redução da meta do superávit
primário de 2014.
O presidente
Renan, quando começou a ser confrontado, disse que a oposição deveria respeitar
a democracia da qual tanto falam. Mais cedo, ele disse que era "depreciar
a democracia compará-la ao sistema da Bolívia".
O parecer do
senador Jucá permite ao governo descumprir a meta fiscal de 2014. O projeto
permite o abatimento de todos os gastos com o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e das desonerações. A manobra fiscal permite até um resultado
negativo (déficit) em 2014. Na sexta-feira, o governo anunciou que fará uma
meta de R$ 10,1 bilhões em 2014, quando a original era de R$ 116,1 bilhões.
SESSÃO
ENTROU PELA MADRUGADA
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A sessão do
Congresso começou por volta de 15h30m de ontem se estendeu noite adentro, sob
muita tensão e questionamento da oposição que reclamava da quebra do direito da
minoria no debate de vetos. Os líderes da oposição exigiam que os vetos fossem
votados um a um, para que cada um deles pudesse ter seu teor discutido em
plenário. O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), criticou a condução da
sessão pelo presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) e avisou que entrará com
mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF).
— Vamos ao
Supremo para garantir o direito da minoria de discutir os vetos. Se você
cerceia o direito da minoria de falar, a minoria não pode exercer seu mandato.
Eram 38 vetos. Não tivemos o direito de discutir, encaminhar a votação, de
orientar as bancadas de cada um deles. Apenas os dois primeiros foram
discutidos. O debate tinha que ser prévio, antes da abertura da votação, até
para que pudéssemos convencer os parlamentares da importância da derrubada —
disse Mendonça Filho
Renan Calheiros
rebateu a acusação da oposição, afirmando que deu direito a todos os que se
inscreveram de falar durante as mais de cinco horas de duração da sessão.
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