
BRASÍLIA -
Em votação apertada e com dissidências na base, o Senado concluiu ontem à noite
a votação de um dos pilares do ajuste fiscal. Por 39 votos a favor e 32 contra,
foi aprovada a medida que endurece as regras para o pagamento do
seguro-desemprego e do abono salarial (MP 665). Apesar do sufoco no início da
sessão, o governo conseguiu sair vencedor na primeira das três medidas que o
Senado terá de votar até o fim da semana para que elas não percam a validade:
as outras duas são a que muda as regras de pensão por morte (MP 664) e a que
aumenta o imposto sobre importações (MP 668) . Como a medida de ontem foi
aprovada sem alterações, com o mesmo texto já chancelado pelos deputados, ela
segue agora à sanção da presidente Dilma Rousseff. Mas a oposição avisou que
vai ao Supremo Tribunal Federal questionar a regra que prevê um abono salarial
proporcional ao tempo trabalhado pelo empregado.
A oposição e
integrantes da base aliada, como senadores do PT, dizem que a proporcionalidade
(receber o abono de forma proporcional ao tempo de trabalho) é inconstitucional
porque o abono teria que ter o mesmo valor do salário mínimo, como era antes da
edição da MP. O sufoco que o governo passou na votação da MP 665, com a
contaminação de outros partidos da base pelos dissidentes do PT, foi provocado,
segundo os rebelados, pela arrogância do vice-presidente Michel Temer, e o
desdém do líder do PT, Humberto Costa (PE) , que declararam, antes da hora, que
os votos contrários seriam insignificantes diante da maioria que o governo
teria na aprovação da medida. A avaliação otimista havia sido feita pela manhã
após a reunião de líderes da base aliada na residência oficial do
vice-presidente, o Palácio do Jaburu, quando Temer e o líder do governo,
Delcídio Amaral (PT-MS), saíram festejando uma suposta maioria confortável.
Outra
questão que deixou os petistas e outros aliados indignados foi a condução do
ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que acenou com um acordo para
a retirada da proporcionalidade na concessão do abono salarial, e depois
recuou, dizendo que o governo aceitava apenas retirar o prazo da noventena.
— O governo
tem conversado. O problema é essas conversas terem começo, meio e fim.
Acertamos que o artigo da proporcionalidade e a noventena seriam retirados.
Agora dizem que não têm como vetar — observou o líder do PMDB, senador Eunício
Oliveira (CE).
MUDANÇA NO ABONO TRAIU COMBINAÇÃO
No PT,
votaram contra a MP os senadores Paulo Paim (PT-RS), Walter Pinheiro (PT-BA) e
Lindbergh Farias (PT-RJ). No PMDB, votaram contra o mérito os senadores Roberto
Requião (PMDB-PR) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES). No PDT, votaram “não” os
senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Reguffe (PDT-DF). Crítico contumaz do
ajuste fiscal, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez questão
de votar na preliminar. Ele votou contra a admissibilidade, mas não votou no
mérito. No PSDB, a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) votou a favor da MP.

O governo
enfrentou dificuldades, porque os senadores descobriram que a questão do abono
não ficara como combinado: o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e o
Planalto confirmaram que o governo aceitara vetar o trecho que fixava em 90 dias
o prazo de carência para o trabalhador ter direito ao benefício. Mas o trecho
que prevê o pagamento proporcional foi mantido.
O grupo de
rebeldes queria a volta à regra anterior à edição da MP, que prevê a concessão
de um abono salarial anual, no valor de um salário mínimo, com prazo de
carência de apenas 30 dias.
O senador
Romero Jucá (PMDB-RR) admitiu que a questão vai parar no STF, onde já existem
ações a respeito do assunto:
— O primeiro
que entrar no Supremo ganha uma liminar. A Constituição diz que tem que ser um
abono integral, de um salário mínimo. É um desgaste desnecessário, porque as
novas regras do abono só valerão para 2016.
O líder do
DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), anunciou que vai ao STF.
— Vamos
entrar com Adin no STF se a nova regra do abono for aprovada. O PT pede é que
se suicidem por ele. O governo quer atropelar o Senado.
— Vamos para
o Supremo — acrescentou o senador Paulo Paim (PT-RS), que tentou convencer o
governo a vetar todo o artigo do abono.
PAIM FALA EM BUSCAR 'NOVOS CAMINHOS'
Depois que o
governo escapou de perder já na votação do aval à MP por apenas três votos, o
líder do governo, Delcídio Amaral (PT-MS) mostrou nervosismo e se pendurou no
telefone em busca de uma saída junto ao Planalto. O senador Paulo Paim (PT-RS)
dizia ter o compromisso dos senadores Lúcia Vânia (PSDB-GO), Valdemir Moka
(PMDB-MS) e Simone Tebet (PMDB-MS) de mudar o voto sim dado ao mérito da MP.
— Tentei de
tudo, mas o governo não acenou com nada. Se não houver o compromisso de não
vetar o fator previdenciário e de acabar com a proporcionalidade do abono,
vamos votar contra o mérito também. Não temos medo de fechamento de questão —
avisou Paim.
Já vendo que
a situação não era tranquila, Humberto Costa disse que a votação seria feita de
qualquer jeito, porque não havia mais como avançar nas negociações.
— Negociamos
até onde a gente podia. O abono como um todo não dava para tirar, são R$ 7
bilhões a mais — conformou-se Humberto Costa.
Depois do
resultado apertado na primeira votação, Michel Temer, responsável pela
articulação política do governo, passou a telefonar para senadores da base
aliada pedindo que fossem para o plenário, correndo contra o tempo: as MPs
perdem validade no próximo dia 1º. O quórum estava baixo no momento da primeira
votação, com apenas 69 dos 81 senadores presentes.
A orientação
do líder do PT foi votar a favor do ajuste fiscal, mas não houve fechamento de
questão. Assim, não haverá punição aos dissidentes:
— Fechamos
questão do ponto de vista político, porque do ponto de vista legal, só é
possível quando há decisão da Executiva. Fizemos isso para demonstrar que a
bancada está solidária ao governo — disse Humberto Costa.
No México,
em visita de Estado, Dilma comemorou a aprovação da MP:
— Estamos
fazendo grande esforço para ajustar a nossa economia — disse, lembrando que o
Brasil adoou diversas medidas anticíclicas desde 2008 para evitar contaminação
da economia pelos efeitos da crise global. — Agora é a hora de desfazer as
medidas anticíclicas e fazer o dever de casa. Há pouco, aprovamos a 1ª lei que
serve de base para esse ajuste. Quero dizer que o México me dá muita sorte.
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