Presos,
empresários argumentam que parte dos valores que estão retidos pela Justiça foi
obtida legalmente

SÃO PAULO -
Dirigentes e executivos de empreiteiras presos na Operação Lava-Jato, da
Polícia Federal, lutam na Justiça para derrubar o bloqueio de suas contas
bancárias e aplicações financeiras. No total, incluindo recursos depositados no
exterior, cerca de R$ 100 milhões estão sendo mantidos à disposição da Justiça.
Às vésperas do recesso de fim de ano, os advogados impetraram recursos tentando
liberar esses valores, mas não obtiveram sucesso.
Boa parte da
defesa argumenta que a origem dos recursos bloqueados é lícita, recebida da
empresa na qual seus clientes trabalham. Para o Ministério Público Federal, no
entanto, não importa se o ganho foi lícito, pois as quantias mantidas em
instituições financeiras têm preferência na ordem de penhora. Se depender dos
procuradores da força-tarefa, esses valores só sairão das contas caso os
executivos consigam comprovar que eles têm “caráter alimentar”.
No último
dia 17, o MPF emitiu um parecer em resposta ao BNP Paribas, onde foram
bloqueados R$ 22,6 milhões de Gerson de Mello Almada, vice-presidente da
Engevix. A instituição queria saber se poderia bloquear os valores em nome dele
aos poucos, conforme vencessem as cotas aplicadas, que têm prazo de resgate
diferenciado. O MPF autorizou que isso fosse feito. Almada foi o único
executivo a ter em instituições bancárias valor superior aos R$ 20 milhões, por
pessoa, que o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, mandou
bloquear.
TRANSFERÊNCIA
PARA O EXTERIOR
Ao indeferir
pedido de revogação da prisão preventiva de Almada, Moro afirmou que, um dia
antes de ser cumprido o mandado de prisão, ele transferiu R$ 8,5 milhões a uma
empresa chamada Afata Investiments, sem que fosse comprovada a necessidade da
operação. Para o juiz, a transferência foi feita não só para evitar o bloqueio
como para facilitar possível fuga para o exterior. A Afata tem sede nas Ilhas
Virgens Britânicas e registro de sociedade estrangeira na Califórnia (EUA) em
nome de Ana Carolina Almada.
EMPRESÁRIO
TEVE 13º SALÁRIO DE R$ 95 MIL BLOQUEADO
Othon
Zanoide de Moraes Filho, diretor-executivo da Queiroz Galvão, preso na Operação
Lava-Jato, teve bloqueada até mesmo a primeira parcela do 13º salário. No
total, foram retidos dele R$ 2,113 milhões. Os advogados de Zanoide
apresentaram até um contracheque emitido pela construtora, no valor de quase R$
95 mil, para pedir a liberação do dinheiro. Eles argumentam que o juiz Sérgio
Moro, responsável pelo caso, afirmou no despacho de bloqueio que liberaria os
salários. Os procuradores, no entanto, querem provas de que o dinheiro é
necessário à alimentação.
Desde o
início de dezembro, Eduardo Leite, da Camargo Corrêa, tenta reaver R$ 463 mil
bloqueados em três contas. O dinheiro, disseram os advogados, é de natureza
alimentar e serve para a subsistência da família - mulher e duas filhas
adolescentes. Por enquanto, ele não conseguiu. Leite pediu ainda para pagar
fiança e ficar em prisão domiciliar porque sofre de hipertensão arterial. Isso
também lhe foi negado. “Hipertensão arterial, média ou grave, é tratada com
medicamentos, fora ou dentro do cárcere”, afirmou Moro, em despacho na semana
passada.
“VIDA
BANDIDA”
Outros dois
executivos da Camargo Corrêa pediram a liberação do dinheiro diretamente ao
Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Dalton Avancini, presidente, e João
Ricardo Auler, conselheiro, tiveram R$ 852 mil e R$ 101 mil bloqueados pela
ordem. O desembargador João Pedro Gebran Neto não liberou e mandou pedirem
primeiro a Moro, devidamente fundamentado.
A
assertividade das decisões na Lava-Jato tem surpreendido os advogados. O
advogado de Almada chegou a discursar na tribuna no TRF.
- Não
estamos lidando com criminosos, não estamos com pessoas que fizeram da sua vida
a prática da delinquência. Não é disso que trata esse caso, por pior que ele
possa ser. Essas pessoas não fizeram da sua vida uma vida bandida. Essas
pessoas construíram um país, gostemos deles ou não - afirmou Fábio Simantob,
que citou o dinheiro bloqueado também para pedir liberdade ao cliente. - Será
que a garantia de uma quantia vultosa como essa não pode garantir, de alguma
forma, a aplicação da lei penal, servir ao pagamento de uma fiança?
O procurador
Carlos Cazarré não deixou por menos e comparou o executivo ao “sujeito que fica
fazendo aviãozinho de maconha num morro do Rio de Janeiro a vida inteira”:
- Quem
comete crime é criminoso. E quem faz isso durante um longo tempo faz da sua
vida uma vida criminosa.
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