
Conformado
com a perda de espaço no ministério do segundo governo Dilma Rousseff, o PT
prepara um avanço sobre os cargos de confiança do governo federal nos Estados e
em grandes municípios como forma de reverter pelo menos em parte o prejuízo. A
ideia é fazer uma espécie de "recall" dos cerca de 15 mil postos
federais fora de Brasília identificando indicações politicamente obsoletas e
ocupando os espaços. "Estamos fazendo um mapa dos cargos federais nos
Estados para saber quem é quem, quem indicou, qual a avaliação que a gente tem
disso, e fazer uma proposta (de nomes à presidente)", disse o presidente
nacional do PT, Rui Falcão.
A última vez
que o partido mapeou os cargos federais espalhados pelo Brasil foi em 2003,
quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o Planalto. Na época,
o encarregado do inventário foi o então secretário nacional de Organização do
PT, Sílvio Pereira, que chegou a ter uma sala para trabalhar no Palácio do
Planalto.
Dois anos
depois, no auge do escândalo do mensalão, Silvinho, como é conhecido, pediu
desfiliação do PT sob acusação de ter ganho um Land Rover de presente de uma
empreiteira que tinha negócios com o governo federal. O ex-dirigente petista
agia sob o comando do então ministro da Casa Civil José Dirceu, que cumpre
prisão domiciliar pela condenação no mensalão. Desta vez, o PT optou por um
caminho diferente. Em vez de fazer o levantamento a partir de Brasília, a
Secretaria Nacional de Organização do partido foi incumbida de elaborar um
mapeamento minucioso, Estado por Estado, com base em informações repassadas pelos
diretórios regionais da sigla.
O objetivo é
identificar as vagas cujas indicações "caducaram" politicamente, seja
porque os padrinhos perderam prestígio, seja em função do realinhamento de
partidos que apoiaram o governo Lula e hoje fazem oposição à gestão Dilma
Rousseff. "A ideia é melhorar a representatividade. Às vezes, tem gente lá
que não representa mais as forças que compõem a base do governo", disse o
atual secretário nacional de Organização do PT, Florisvaldo Souza.
Segundo ele,
existe ainda uma terceira categoria de ocupantes destes postos federais que são
os técnicos de carreira alçados a postos de confiança automaticamente depois
que os indicados políticos deixaram as vagas. Eles também estão na mira do PT. "Tem
lugares em que a pessoa indicada saiu e acabou ficando algum técnico de
carreira, sem qualquer compromisso político", disse o dirigente petista.
Segundo
fontes do partido, os principais objetivos do levantamento são acomodar o
chamado baixo clero petista e manter uma margem de manobra para negociar a
composição da base de apoio ao segundo mandato de Dilma na Câmara. Entre os
alvos estão indicações feitas pelo PSB, hoje na oposição, que sobreviveram ao
desembarque do partido do governo, em 2013, apadrinhados por ex-senadores e
ex-governadores hoje aposentados - a exemplo de José Sarney (PMDB) - e até
petistas que perderam o poder ou se envolveram em escândalos.
Embora Dilma
tente contemplar todos os partidos aliados na montagem do governo com cargos no
primeiro e segundo escalões, o PT não tem segurança sobre como será o
comportamento do Congresso com a pulverização de parlamentares nos 28 partidos,
seis deles representados na Câmara pela primeira vez. Segundo petistas, o
fenômeno só poderá ser compreendido depois do início da nova legislatura e os
cargos de confiança nos Estados podem ser usados para negociações com
parlamentares no varejo.
De acordo com o Boletim Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento, existem quase 23 mil cargos de confiança em todo o governo federal. Os salários vão de R$ 2,1 mil a R$ 12,9 mil. O ministério não soube informar quantos destes cargos estão fora da capital federal, mas o PT estima em dois terços desse contingente.
Cerca de 75%
das vagas, no entanto, são reservadas a funcionários de carreira, sobrando
pouco menos de 6 mil postos em todo o País para livre nomeação.
Os números não
levam em conta cargos em estatais e autarquias, que também estão na mira do PT.
De acordo com o secretário de Organização, o partido ainda não tem um número
fechado. Apesar de reivindicar a prioridade para preencher estes postos, o PT
toma cuidados para não pisar nos calos de aliados no Congresso e,
principalmente, dos governadores - parte importante do modelo de
governabilidade do segundo mandato.
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