sábado, 27 de abril de 2013

Anvisa emite alerta nacional sobre mortes em ressonância no Vera Cruz

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um comunicado a todas as vigilâncias sanitárias do país para pedir maior rigor na fiscalização a clínicas de serviço de diagnóstico por imagem. O alerta foi dado depois das primeiras conclusões sobre afalha que causou a morte de três pacientes no hospital Vera Cruz, em Campinas (SP), após exame de ressonância magnética.

Perfluorocarbono provocou mortes de pacientes no Vera Cruz, em Campinas (Foto: Reprodução / EPTV)

Os pacientes de Campinas receberam na veia um produto chamado perfluorocarbono do tipo Fluorinert FC 770, que só pode ser utilizado no aparelho de ressonância, sem, contudo, entrar em contato com o corpo do paciente. O composto era armazenado pela clínica em bolsas reutilizadas de soro fisiológico, sem identificação, o que, para a polícia, induziu uma funcionária ao erro.

A Anvisa explicou, em nota enviada nesta sexta-feira (26), que o produto não tem uso na medicina e por isso não tem - e nem poderia ter - registro na agência. “O produto utilizado em Campinas não tem uso médico, seu uso é em equipamento, logo não poderia ter registro na Anvisa”, diz a nota.

O texto da assessoria de imprensa do órgão diz que, a partir do que ocorreu na clínica Ressonância Magnética Campinas (RMC), que opera os exames dentro do Vera Cruz, a Anvisa “enviou ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária um comunicado pedindo que todas as Visas do país intensifiquem a fiscalização para saber se elas têm protocolos de segurança”. A agência afirma, ainda, que acompanhará este levantamento junto às visas.

Produto em desuso
O presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), o médico Henrique Carrete Junior, explica que a utilização do perfluorocarbono no procedimento de alguns exames de ressonância é adotada por algumas clínicas, embora seja pouco comum no Brasil. Ele explica que o material é colocado no aparelho, sem contato com o paciente, e melhora a qualidade da imagem gerada pelo equipamento.

“Ele é utilizado no instrumento, em uma parte do equipamento, para melhorar o sinal. Não é para ser injetado no paciente. De fato, ele não é comum, mas ele é utilizado, tem publicação internacionalmente e não é algo experimental”, explica Carrete.

O médico explica que o medicamento não é tão habitual porque ele é utilizado em alguns exames restritos, como o de próstata e alguns superficiais, e outras tecnologias surgiram e superaram o uso desta técnica. “Existem metodologias que vem para ficar e outras que acabam sendo utilizadas e vão caindo em desuso. Este eu acho que é o caso. Ele surgiu com algo muito interessante e foi caindo em desuso”, conta.

Falha humana
Os dois pacientes homens, de 36 e 39 anos, e uma mulher, de 25, morreram de parada cardiorrespiratória após passarem pelo exame na RMC, que fica dentro do Hospital Vera Cruz. A substância aplicada nos pacientes só foi apreendida pela polícia dentro da clínica dois meses após as mortes, porque, segundo o delegado, o local não foi preservado.

O delegado José Carlos Fernandes explicou que o perfluorocarbono, utilizado para exames na região pélvica, sem contato direto com o paciente, não é solúvel no sangue - por isso não poderia ser injetado. Segundo o policial, o composto era acondicionado em embalagens reaproveitadas e ficava no mesmo armário do soro fisiológico, apenas em gaveta diferente. A auxiliar de enfermagem, de 20 anos, não teria sido orientada sobre a diferenciação dos produtos.

Investigações
A polícia ainda não informou quem será indiciado no caso e também não divulgou o prazo que o inquérito será concluído. Fernandes afirmou que tanto a responsabilidade dos funcionários, quanto do hospital e da clínica serão avaliadas individualmente. Para isso, a partir de segunda-feira (29) o delegado pretende colher mais seis depoimentos. Ele não descarta a chance de acareação entre as testemunhas.

Clínica não se manifesta
A clínica RMC informou, por meio de nota, que os esclarecimentos detalhados serão feitos todos na próxima semana, quando a direção da empresa deve conceder entrevista coletiva.

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