"Já tinha matado um, tive de acabar com o
serviço", declarou.
Olhando sempre para o chão, mantendo a voz baixa e
aparentando calma, Aparecido Souza Alves, 23, conta por que degolou e matou
sete pessoas na pequena cidade de Doverlândia, no oeste de Goiás: queria roubar
o dono da fazenda, seu ex-patrão.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na delegacia em
que está preso, em Goiânia, Alves afirmou que tinha a intenção de matar
"apenas" o pecuarista Lázaro de Oliveira Costa, 57. As outras pessoas
foram assassinadas, segundo ele, por ter se sentido encurralado.
"Já tinha matado um, tive de acabar com o
serviço."
A versão de que os crimes foram cometidos por
"ganância", como ele mesmo diz, é mais uma que o desempregado dá para
o crime.
À polícia já havia apresentado oito versões diferentes -em
uma, disse ter sido contratado pelo futuro sogro de Leopoldo, filho do pecuarista,
que também foi morto.
Em outra, diz que foi apaixonado pela filha do fazendeiro,
quando trabalhou no local -nove anos atrás.
LINCHAMENTO
Para a polícia, não há dúvida de que Alves foi o executor
dos crimes. O objetivo agora é descobrir se agiu sozinho.
Com ar cansado, um olho roxo e a barba por fazer, Alves está
preso sozinho em uma cela da Delegacia de Homicídios de Goiânia.
Ele foi transferido porque moradores de Doverlândia queriam
linchá-lo.
Foi para a Delegacia de Furtos, mas lá, diz a polícia,
apanhou dos outros presos.
No dia 28 de abril, Alves matou Costa, o filho dele,
Leopoldo, 22, e outras cinco pessoas na fazenda Nossa Senhora Aparecida.
Todos foram esgorjados -tiveram seus pescoços cortados com
uma faca até quase terem a cabeça arrancada.
A intenção de Alves, segundo conta, era roubar R$ 36 mil que
o pecuarista tinha acabado de receber pela venda de gado. O dinheiro seria
usado para pagar o casamento do filho, que aconteceria no sábado que vem.
Porém, quando chegou à fazenda, não achou o dinheiro.
"Procurei, mas não achei dinheiro lá. Por isso matei o seu Lázaro e, mais
tarde, o filho dele que chegou de trator", disse Alves, sem demonstrar
emoção alguma.
À Folha o rapaz afirmou que seu pai, Antônio Alves, 70,
ameaçou as vítimas com uma arma, além de ter segurado o dono da fazenda para
ele cortar seu pescoço.
Essa versão é tratada como fantasiosa pela polícia, porque
Antônio, que chegou a ser detido na quinta-feira passada, é doente e,
aparentemente, não teria forças para ajudar nos crimes.
"Apontei a arma para eles, mandei todo mundo deitar e
ficar de cabeça baixa para que não vissem o que estava acontecendo. Aí coloquei
o joelho nas costas de cada um e cortei o pescoço", disse, ao explicar
como teria matado as outras cinco pessoas.
Além de Alves, estão presos o futuro sogro de Leopoldo, o
fazendeiro Alcides Batista Barros, 60, um sobrinho de Costa, Célio Juno da
Silva, 32, e um terceiro homem -que não teve o nome divulgado nem foi informada
pela polícia de Goiás qual teria sido sua participação no crime.
Pai da noiva de Leopoldo, Barros foi preso porque Alves
disse, em uma de suas versões, ter sido contratado por R$ 50 mil para matar
toda a família do fazendeiro. Alves agora nega isso, mas Barros ainda não foi
solto.
Silva também foi detido porque Alves disse ter sido ele que
indicou onde estaria o dinheiro na casa de seu tio. Os advogados de Silva e
Barros negam e dizem que eles nem conhecem o assassino.
Dois casais que foram mortos -Miracy Carneiro, 65, Joaquim
Manoel Carneiro, 61, Adriano Carneiro, 22, e Tames Mendes da Silva, 24-, eram
amigos da família e tinham ido à fazenda levar presente de casamento.
Tames foi encontrada com as roupas rasgadas. Em uma das
versões, Alves disse que a estuprou. À Folha se negou a falar sobre o assunto. O
outro morto é um vaqueiro que trabalhava na fazenda.
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