Ex-diretor
também deu detalhes da atuação do lobista Fernando Soares na diretoria
internacional da Petrobras

SÃO PAULO —
A obra de reforma da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que custaria de
US$ 1 a 2 bilhões e não chegou a ser feita, já tinha duas empreiteiras
definidas: a UTC e a Odebrecht. A informação faz parte de dois termos da
colaboração premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que deu
também detalhes da atuação do lobista Fernando Soares na diretoria
internacional da Petrobras, que foi ocupada por Nestor Cerveró e cuja propina
era destinada a políticos do PMDB.
Costa
afirmou que a obra destinada às duas empreiteiras seria coordenada pela
diretoria de Engenharia e Serviços, que era comandada por Renato Souza Duque,
indicado pelo ex-ministro José Dirceu. Incluído como investigado na Operação
Lava-Jato, Dirceu recebeu da UTC transferências no valor de R$ 1,3 milhão, em
2012, e de R$ 939 mil, em 2013, a título de serviços de consultoria, assessoria
e auditoria. Os depósitos foram feitos na empresa dele, a JD Assessoria e
Consultoria. Outras duas empreiteiras investigadas na Lava-Jato, a Galvão
Engenharia e a OAS, também contrataram serviços do ex-ministro.
Segundo o
ex-diretor, que admitiu ter recebido de Soares US$ 1,5 milhão para não “causar
problemas” na reunião destinada a analisar a compra da refinaria texana, foram
executivos das duas empreiteiras que comentaram com ele sobre o acerto de
contratação. Um deles é Ricardo Pessoa, da UTC, que está preso na carceragem da
Polícia Federal em Curitiba e é acusado de ser o responsável pela operação do
cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras, agendando e comunicando
reuniões entre as empresas. Márcio Faria e Rogério Araújo teriam sido os
interlocutores da Odebrecht.
No
depoimento, Costa disse que a associação com a Astra Oil era um mau negócio
para a Petrobras, pois a refinaria de Pasadena só processava petróleo leve, o
oposto da necessidade da Petrobras, que exporta petróleo pesado e cujo
interesse seria refinar este tipo de produto lá fora. Além disso, acrescentou,
a refinaria era velha e a Astra era apenas uma pequena trading sem qualquer
experiência em refino. A associação com a estatal brasileira foi proposta a
Cerveró por um ex-funcionário da área comercial da Petrobras chamado Alberto
Feilhaber, que passou a trabalhar como representante da Astra.
No
depoimento, ele diz ainda que foram incluídos no contrato com a Astra duas
cláusulas que não foram apresentadas na reunião de diretoria da Petrobras e na
reunião com o Conselho de Administração. Uma delas, chamada de ‘cláusula
marlim”, previa que a Petrobras garantiria à Astra um retorno mínimo de 6%
mesmo que a quantidade de refino não fosse suficiente para garantir o lucro
esperado pela sócia.
Como o petróleo exportado pela Petrobras não era adequado
à refinaria do Texas, a quantidade de refino não seria atingida. A segunda
cláusula foi a “put option”, que significa que se uma parte quiser sair do
negócio a outra é obrigada a comprar, mas Costa considerou este item normal em
grandes negócios.
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