Especialistas avaliam se esta é uma batalha que os EUA podem se permitir a entrar
LONDRES — Do envio de novos mísseis balísticos intercontinentais desfilando através de Pyongyang em uma grande parada até ameaçar um "golpe aniquilador" contra seus inimigos americanos, há pouco sinal de que o governo de Kim Jong-un ceda à pressão internacional.
Em resposta
às provocações, o presidente dos EUA, Donald Trump, tentou adotar um tom rude,
ameaçando "lidar adequadamente" com a Coreia do Norte, caso a China
não consiga controlar seu aliado, e enviar o que descreveu como uma
"armada de navios de guerra" para a região.
As ordens
americanas de destruir um sistema de cavernas usado por terroristas do Estado
Islâmico no Afeganistão, usando a "mãe de todas as bombas" - que
nunca antes havia sido utilizada - e atacar uma base aérea do governo sírio
foram vistos como sinais de alerta para Pyongyang. Essas investidas, porém,
levantaram questões sobre se Trump estaria preparado para tomar as mesmas
medidas na Coreia do Norte, e o possível risco de guerra nuclear.
David S.
Maxwell, ex-coronel das forças especiais do Exército dos Estados Unidos, que
atuou na Coreia e no Japão, revelou que uma bomba ainda mais poderosa,
conhecida como “Penetrator Massive Ordnance“ (Artilharia Maciça de Penetração,
em tradução livre) foi desenvolvida para as forças americanas tendo como
objetivo atacar instalações subterrâneas da Coreia do Norte.
— Há muitos alvos enterrados no subsolo e essa bomba foi desenvolvida para atacar esses alvos, mas eu acho deve ser feita a seguinte pergunta: pode uma ação militar contra a Coreia do Norte não resultar em uma resposta catastrófica de Pyongyang? — acrescentou Maxwell.
Ele, que é
diretor associado do Centro de Estudos de Segurança da Universidade de
Georgetown, alertou que se a Coreia do Norte sentir que a existência de seu
regime está ameaçada poderia lançar um ataque nuclear.
— Eles não
ganhariam uma guerra contra a Coreia do Sul e os EUA, mas podem acreditar que
essa é a única opção. Mesmo que seja um ataque preventivo para eliminar as
capacidades nucleares e de mísseis, o governo do Norte pode sentir que tem de
responder — ressaltou.
Ele advertiu
que mesmo um ataque aéreo isolado poderia deflagrar uma "resposta
catastrófica", necessitando evacuar grandes áreas da Coreia do Sul e
mobilizar forças americanas em preparação para uma ação em campo.
Já para John
Nilsson-Wright, pesquisador sênior da Chatham House, a probabilidade de uma
intervenção militar americana é muito baixa.
— Washington
não pode se arriscar a alienar Seul e Tóquio, e Trump parece mais interessado
em usar o púlpito de valentão e a provocação retórica do que em um compromisso
sério para uma completa ação militar.
Trump baixou
sua retórica, chamando a China de "tábua de salvação econômica para a
Coreia do Norte" depois de discutir o assunto com Xi Jinping. "Embora
nada seja fácil, se eles quiserem resolver o problema da Coreia do Norte, eles
vão", acrescentou o presidente.
Mike
Pense, vice-presidente dos EUA, insistiu que um grupo de ataque liderado pelo
porta-aviões USS Carl Vinson, que estava completando um treinamento com a
Marinha australiana quando Trump fez seu anúncio, chegaria às águas da
Península Coreana "dentro de dias".
Tal como os
ataques na Síria e no Afeganistão, a medida poderia simplesmente "reforçar
a determinação da Coreia do Norte" para aumentar as suas capacidades
militares, advertiu o ex-coronel Maxwell.
Ele disse
que o "verdadeiro curinga" foi o próprio Kim, que brutalmente
expulsou aqueles que o desafiavam do seu círculo íntimo em seus seis anos de poder.
Também acrescentou que não há serviço de inteligência no mundo que possa nos
dizer o que o ditador fará.
Nilsson-Wright
disse que, embora existam pedidos para que os EUA destruam as armas de
destruição em massa da Coreia do Norte, seus estoques seriam de difícil
identificação e fortemente reforçados, com locais espalhados pelo país. Ele
argumentou que a única maneira que os EUA podem esperar para resolver a crise é
através de pressão coordenada com os aliados - e uma vontade de negociar.
As possíveis
medidas poderiam incluir sanções econômicas da China, oferecendo concessões
políticas em troca de um congelamento de testes e negociações de paz envolvendo
lideranças regionais.
Maxwell
concorda, e disse que apesar de o governo de Kim ter aprendido a contornar os
bancos internacionais após sanções anteriores, a ação financeira ainda era a
mais eficaz. Ele encoraja os EUA a atenuarem a incerteza e diminuir as tensões,
recusando-se a responder "todos os testes de mísseis e cada movimento
militar com retórica".
O mundo
deveria focar no aterrorizante registro da Coreia do Norte sobre direitos
humanos, disse Maxwell. Ele acrescentou que grande parte dos registros não
foram contabilizados, desde que as Nações Unidas revelaram “atrocidades
impublicáveis” em 2014.
— Quando
falamos de direitos humanos, isso sabota a legitimidade do governo. Existe um
valor estratégico e moral em informar ao povo norte-coreano que nós sabemos que
eles estão sofrendo — completou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente esta matéria!