sábado, 29 de abril de 2017

Análise: O que aconteceria se os EUA e a Coreia do Norte entrassem em guerra?


Especialistas avaliam se esta é uma batalha que os EUA podem se permitir a entrar




LONDRES — Do envio de novos mísseis balísticos intercontinentais desfilando através de Pyongyang em uma grande parada até ameaçar um "golpe aniquilador" contra seus inimigos americanos, há pouco sinal de que o governo de Kim Jong-un ceda à pressão internacional.

Em resposta às provocações, o presidente dos EUA, Donald Trump, tentou adotar um tom rude, ameaçando "lidar adequadamente" com a Coreia do Norte, caso a China não consiga controlar seu aliado, e enviar o que descreveu como uma "armada de navios de guerra" para a região.

As ordens americanas de destruir um sistema de cavernas usado por terroristas do Estado Islâmico no Afeganistão, usando a "mãe de todas as bombas" - que nunca antes havia sido utilizada - e atacar uma base aérea do governo sírio foram vistos como sinais de alerta para Pyongyang. Essas investidas, porém, levantaram questões sobre se Trump estaria preparado para tomar as mesmas medidas na Coreia do Norte, e o possível risco de guerra nuclear.


David S. Maxwell, ex-coronel das forças especiais do Exército dos Estados Unidos, que atuou na Coreia e no Japão, revelou que uma bomba ainda mais poderosa, conhecida como “Penetrator Massive Ordnance“ (Artilharia Maciça de Penetração, em tradução livre) foi desenvolvida para as forças americanas tendo como objetivo atacar instalações subterrâneas da Coreia do Norte.


— Há muitos alvos enterrados no subsolo e essa bomba foi desenvolvida para atacar esses alvos, mas eu acho deve ser feita a seguinte pergunta: pode uma ação militar contra a Coreia do Norte não resultar em uma resposta catastrófica de Pyongyang? — acrescentou Maxwell.

Ele, que é diretor associado do Centro de Estudos de Segurança da Universidade de Georgetown, alertou que se a Coreia do Norte sentir que a existência de seu regime está ameaçada poderia lançar um ataque nuclear.


— Eles não ganhariam uma guerra contra a Coreia do Sul e os EUA, mas podem acreditar que essa é a única opção. Mesmo que seja um ataque preventivo para eliminar as capacidades nucleares e de mísseis, o governo do Norte pode sentir que tem de responder — ressaltou.

Ele advertiu que mesmo um ataque aéreo isolado poderia deflagrar uma "resposta catastrófica", necessitando evacuar grandes áreas da Coreia do Sul e mobilizar forças americanas em preparação para uma ação em campo.

Já para John Nilsson-Wright, pesquisador sênior da Chatham House, a probabilidade de uma intervenção militar americana é muito baixa.

— Washington não pode se arriscar a alienar Seul e Tóquio, e Trump parece mais interessado em usar o púlpito de valentão e a provocação retórica do que em um compromisso sério para uma completa ação militar.

Trump baixou sua retórica, chamando a China de "tábua de salvação econômica para a Coreia do Norte" depois de discutir o assunto com Xi Jinping. "Embora nada seja fácil, se eles quiserem resolver o problema da Coreia do Norte, eles vão", acrescentou o presidente.

 Mike Pense, vice-presidente dos EUA, insistiu que um grupo de ataque liderado pelo porta-aviões USS Carl Vinson, que estava completando um treinamento com a Marinha australiana quando Trump fez seu anúncio, chegaria às águas da Península Coreana "dentro de dias".

Tal como os ataques na Síria e no Afeganistão, a medida poderia simplesmente "reforçar a determinação da Coreia do Norte" para aumentar as suas capacidades militares, advertiu o ex-coronel Maxwell.

Ele disse que o "verdadeiro curinga" foi o próprio Kim, que brutalmente expulsou aqueles que o desafiavam do seu círculo íntimo em seus seis anos de poder. Também acrescentou que não há serviço de inteligência no mundo que possa nos dizer o que o ditador fará.

Nilsson-Wright disse que, embora existam pedidos para que os EUA destruam as armas de destruição em massa da Coreia do Norte, seus estoques seriam de difícil identificação e fortemente reforçados, com locais espalhados pelo país. Ele argumentou que a única maneira que os EUA podem esperar para resolver a crise é através de pressão coordenada com os aliados - e uma vontade de negociar.

As possíveis medidas poderiam incluir sanções econômicas da China, oferecendo concessões políticas em troca de um congelamento de testes e negociações de paz envolvendo lideranças regionais.

Maxwell concorda, e disse que apesar de o governo de Kim ter aprendido a contornar os bancos internacionais após sanções anteriores, a ação financeira ainda era a mais eficaz. Ele encoraja os EUA a atenuarem a incerteza e diminuir as tensões, recusando-se a responder "todos os testes de mísseis e cada movimento militar com retórica".
O mundo deveria focar no aterrorizante registro da Coreia do Norte sobre direitos humanos, disse Maxwell. Ele acrescentou que grande parte dos registros não foram contabilizados, desde que as Nações Unidas revelaram “atrocidades impublicáveis” em 2014.

— Quando falamos de direitos humanos, isso sabota a legitimidade do governo. Existe um valor estratégico e moral em informar ao povo norte-coreano que nós sabemos que eles estão sofrendo — completou.




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