Ex-mulher
diz que artista teve um infarto; corpo será levado à cidade de Sobral, onde ele
será enterrado. Ícone enigmático, músico compôs clássicos como 'Velha roupa
colorida' e 'Como nossos pais'.
O cantor e
compositor cearense Belchior, de 70 anos, morreu na madrugada deste domingo
(30) em Santa Cruz do Sul (RS). A polícia informou que o artista morreu de
causas naturais. O corpo deve ser levado para o Ceará, onde ocorrerá o
sepultamento em Sobral, sua cidade natal, segundo a Secretaria de Cultura do
Estado.
De acordo
com a polícia, um dos médicos do IML relatou informalmente que a causa da morte
foi o rompimento da aorta, que indica a morte natural de Belchior. "Esse
deve ser o resultado que vai vir no laudo depois. Claro que também serão feitos
mais alguns exames, mas em princípio foi isso", afirmou a delegada Raquel
Schneider, da Polícia Civil de Santa Cruz do Sul. A ex-mulher do músico, Ângela
Margareth, disse ao repórter Chico Regueira, da TV Globo, que ele teve um
infarto.
Lara
Belchior, sobrinha do cantor, disse que a família cogita realizar um primeiro
velório em Fortaleza, antes de levar o corpo a Sobral. O
corpo foi retirado pela funerária da casa do artista por volta das 14h30, e
deve seguir para o Instituto Médico-Legal de Cachoeira do Sul, cidade cerca de
100 km distante de Santa Cruz do Sul.
O Governo do
Estado do Ceará confirmou a morte e decretou luto oficial de três dias.
“Recebi
com profundo pesar a notícia da morte do cantor e compositor cearense
Belchior" disse em nota o governador Camilo Santana. "O povo cearense
enaltece sua história, agradece imensamente por tudo que fez e pelo legado que deixa
para a arte do nosso Ceará e do Brasil" (veja íntegra da nota abaixo).
O traslado
do corpo será feito pelo Governo do Ceará, que aguarda liberação das autoridades
gaúchas. O horário ainda não foi confirmado, mas a expectativa é que o corpo
seja levado ainda neste domingo.
A assessoria
do governo disse também que o chefe da Casa Militar do Ceará, coronel da
Polícia Militar Túlio Studart, entrou em contato com o chefe da Casa Militar do
RS, e que eles aguardam o resultado do laudo oficial.
Veja a íntegra da nota oficial do
Governo do Ceará:
"O Governo do Ceará lamenta
profundamente o falecimento do cantor e compositor cearense, Belchior, aos 70
anos, na noite deste sábado, 29, na cidade de Santa Cruz, no Rio Grande do Sul.
E informa que está prestando todo o apoio à família, inclusive providenciando o
traslado do corpo para Sobral, sua cidade natal. O governador Camilo Santana
está decretando luto oficial de três dias.
Belchior é dono de uma trajetória
artística da mais absoluta importância para a cultura do Estado. Sua carreira o
levou ao patamar de um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira,
promovendo o nome do Ceará em todo o Brasil e no mundo".
Nascido em
26 de outubro de 1946, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes foi
um dos ícones mais enigmáticos da música popular no Brasil, com quase 40 anos
de carreira.
Teve o
primeiro sucesso nos anos 70 ao lado do também cearense Fagner, com a faixa
"Mucuripe". Com o disco "Alucinação" (1976), lançou
clássicos como as faixas "Apenas um rapaz latino-americano",
"Velha roupa colorida" e "Como nossos pais", essa última
que se tornou conhecida na voz da cantora Elis Regina.
Paradeiro
Segundo o
colunista do G1, Mauro Ferreira, o cantor não
tinha paradeiro certo desde 2008. Em 2007, a família reclamou do
sumiço do artista, que abandonou a carreira; e nem mesmo seu produtor musical
conseguia contato. A partir daí, foram surgindo boatos a respeito do paradeiro
do cantor.
Segundo
reportagem do Fantástico, Belchior abandonou ao menos dois carros, sem
explicação. Um deles, deixado no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo,
acumulando milhares de reais em dívidas de estacionamento. Outro veículo, uma
Mercedes Benz do cantor, foi largado em um estacionamento também em São Paulo,
onde ele morava antes de ir para o Uruguai.
Belchior chegou
a ser procurado pela polícia em 2012 devido a uma dívida, à época, de US$ 15
mil em um hotel na cidade de Artigas, no Uruguai, por seis meses de diárias. No
fim daquele ano, em meio à polêmica, foi visto em Porto Alegre, mas não quis
gravar entrevista.
Trajetória
Na infância
no Ceará, Belchior estudou piano e música coral e trabalhou no rádio em sua
cidade natal. Seu pai tocava flauta e saxofone e sua mãe cantava em coro de
igreja. Mudou-se em 1962 para Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades.
Também chegou a estudar Medicina, mas abandonou o curso em 1971 para se dedicar
à música.
Começou
apresentando-se em festivais pelo Nordeste.
Fez parte do chamado Pessoal do
Ceará, que inclui artistas como Fagner, Ednardo, Rodger e Cirino. Depois do
sucesso de "Mucuripe", mudou-se para São Paulo, onde compôs trilhas
sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e aparições em programas de
televisão.
Em 1974,
lançou seu primeiro disco, "A palo seco", cuja música título se
tornou sucesso nacional e ganhou versões ao longo da história, como a de
Oswaldo Montenegro e da banda Los Hermanos.
Outros
artistas também regravaram sucessos de Belchior, entre eles Roberto Carlos
("Mucuripe"), Erasmo Carlos ("Paralelas"), Engenheiros do
Hawaii ("Alucinação"), Wanderléa ("Paralelas") e Jair
Rodrigues ("Galos, noites e quintais"). Elis Regina foi uma de suas
maiores intérpretes: além de "Como nossos pais", gravou
"Mucuripe", "Apenas um rapaz latino-americano" e
"Velha roupa colorida".
Em 1982, o
cantor lançou "Paraíso", que tem participações dos àquela época ainda
jovens artistas Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo
Antunes. Fundou sua própria gravadora e produtora, a Paraíso Discos, em 1983.
Ao longo da carreira, Belchior teve mais de 20 discos lançados.
Também gravou
composições outros artistas, como "Romaria", de Renato Teixeira. No
disco "Vício elegante", de 1996, canta apenas músicas de colegas,
entre elas "Almanaque", de Chico Buarque, "Esquadros", de
Adriana Calcanhoto, e "O nome da cidade", de Caetano Veloso.
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