
Presidente
do Supremo, ministro Joaquim Barbosa André Coelho / Agência O Globo
BRASÍLIA - O
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator do processo do mensalão,
ministro Joaquim Barbosa, ficou indignado com as declarações do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva sobre o julgamento do processo. Barbosa divulgou nota
nesta segunda-feira dizendo que os comentários de Lula revelam a dificuldade
dele em compreender o papel do Judiciário em uma democracia.
O ministro defendeu a atuação do tribunal ao
longo do julgamento, pois, segundo ele, houve larga oportunidade de atuação da
defesa e da acusação.
“O juízo de
valor emitido pelo ex-Chefe de Estado não encontra qualquer respaldo na
realidade e revela pura e simplesmente sua dificuldade em compreender o
extraordinário papel reservado a um Judiciário independente em uma democracia
verdadeiramente digna desse nome”, diz o texto.
Barbosa
também afirmou que as declarações de Lula levam desesperança para o cidadão
comum, que clama por justiça contra casos de corrupção. O ministro lamentou que
as críticas tenham sido feitas no exterior, e não no Brasil.
“Lamento
profundamente que um ex-presidente da República tenha escolhido um órgão da
imprensa estrangeira para questionar a lisura do trabalho realizado pelos
membros da mais alta Corte da Justiça do País.
A
desqualificação do Supremo Tribunal Federal, pilar essencial da democracia
brasileira, é um fato grave que merece o mais veemente repúdio. Essa iniciativa
emite um sinal de desesperança para o cidadão comum, já indignado com a
corrupção e a impunidade, e acuado pela violência. Os cidadãos brasileiros
clamam por justiça”, escreveu o ministro.
Na nota,
Barbosa ressalta que o processo foi conduzido de forma transparente, e que réus
e o Ministério Público puderam ter acesso simultaneamente aos autos de qualquer
parte do país, porque os documentos foram digitalizados e estavam disponíveis
em rede. “Os advogados dos réus acompanharam, desde o primeiro dia, todos os
passos do andamento do processo e puderam requerer todas as diligências e
provas indispensáveis ao exercício do direito de defesa”, anotou o presidente
do STF.
O ministro
acrescentou ainda que a defesa e a acusação tiveram mais de quatro anos para
levar ao STF as provas de seu respectivo interesse. Barbosa informou que mais
de 600 testemunhas foram ouvidas e foram produzidas perícias por órgãos e
entidades “situadas na esfera de mando e influência do presidente da
República”, como Banco Central, Banco do Brasil e Polícia Federal. Ainda
segundo a nota, outros órgãos produziram provas técnicas, como a Câmara dos
Deputados e o Tribunal de Contas da União (TCU).
Lula
afirmou, em entrevista divulgada neste domingo pela TV
portuguesa RTP, que os ministros do Supremo tomaram mais uma decisão política
do que jurídica ao condenar 25 réus do processo do mensalão.
— Tem uma
coisa que as pessoas precisam compreender: o povo é mais esperto do que algumas
pessoas imaginam. O mensalão, o tempo vai se encarregar de provar, que o
mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão
jurídica — disse o ex-presidente em um trecho da entrevista de quase 40
minutos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente esta matéria!