quinta-feira, 26 de junho de 2014

Analistas veem possibilidade de novo aumento de capital; empresa nega

Petrobras: ANP prevê investimento de US$ 60 bilhões em 35 anos nas áreas cedidas pelo governo.

Plataforma P-74, que atuará na área de Franco
Foto: Terceiro / Divulgação

RIO - Um dia depois de o governo anunciar a contratação direta da Petrobras – sem licitação – para explorar o volume excedente de petróleo em áreas da cessão onerosa, no pré-sal da Bacia de Santos, o mercado reagiu com pessimismo. Bancos, corretoras e especialistas questionaram desde a falta de informações sobre o acordo até a capacidade de a empresa realizar os investimentos na exploração das áreas, com volume estimado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) entre 10 bilhões e 15 bilhões de barris.

A estatal terá que pagar R$ 15 bilhões até 2018 – considerando o valor do bônus de assinatura, que deve ser pago ainda este ano, de R$ 2 bilhões, e R$ 13 bilhões na antecipação de parte do excedente em óleo. Como a produção deve começar apenas em 2021, a estatal deve financiar o Tesouro até lá. Como resultado, especialistas já discutem a hipótese de uma possível capitalização da Petrobras em 2015, a maior necessidade de aumento nos preços dos combustíveis e alertam para a dificuldade de viabilizar todos os investimentos do pré-sal.
Com a percepção negativa do mercado, as ações da Petrobras – cujo endividamento cresceu 352% em cinco anos – estiveram entre as maiores quedas da Bolsa de Valores de São Paulo: os papéis ordinários (com voto) caíram 3,33% e os preferenciais (sem voto) recuaram 1,98%. A estatal perdeu R$ 13,25 bilhões em valor de mercado nos últimos dois dias, para R$ 217,650 bilhões.

De acordo com a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, a Petrobras terá de investir em torno de US$ 60 bilhões durante os 35 anos de duração de contrato para o desenvolvimento dessas áreas excedentes. A cessão onerosa foi um mecanismo criado pela União para participar da capitalização da Petrobras em 2010, sem desembolsar dinheiro. Para isso, cedeu cinco bilhões de barris em áreas do pré-sal à estatal. Com o tempo, identificou-se um volume maior de petróleo nessas áreas. É esse excedente que foi negociado.
— Serão US$ 60 bilhões em investimentos. O impacto no seu endividamento (da Petrobras) será pequeno e a produção estará subindo muito. A produção de petróleo tem tudo para deslanchar — destacou Magda ao GLOBO.

O pagamento dos R$ 15 bilhões previstos no acordo representarão alta de cerca de 3% dos investimentos previstos no Plano de Negócios 2014-2018 da Petrobras, que passarão de US$ 220,6 bilhões para cerca de US$ 227,2 bilhões.
Apesar de a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, afirmar que o efeito do excedente da cessão onerosa será “suave” em seu Plano de Negócios, especialistas acreditam que o negócio é ruim para a companhia, pois tende a elevar o nível de alavancagem (relação entre endividamento líquido e patrimônio líquido) da empresa, que ficou em 39% no primeiro trimestre, acima do nível almejado pela companhia, de 35%.
‘SINAL RUIM PARA AGÊNCIAS DE RATING’

O Banco BTG, em relatório, afirmou que o novo investimento “aumenta significativamente o risco de a Petrobras precisar fazer um aumento de capital em 2015”. Além disso, envia um sinal ruim para as agências de classificação de risco e pode afetar a perspectiva de aumento de produção no futuro. Pedro Galdi, analista da SLW Corretora, diz que é possível que a Petrobras tenha de aumentar seu capital no ano que vem:
— O negócio é bom para a Petrobras, mas o momento é péssimo. Isso porque vai gerar produção só em 2021, enquanto a empresa terá que fazer desembolsos até 2018. A companhia está muito endividada e é atingida por várias notícias ruins.
Procurada, a Petrobras reafirmou que não fará nova capitalização, já que esse é um dos pressupostos do Plano de Negócios 2014-2018.

O UBS questiona também o porquê de a estatal ter feito o anúncio do excedente da cessão onerosa antes mesmo da comprovação da reserva dos 5 bilhões de barris da cessão onerosa. Para o UBS, a Petrobras pode não conseguir desenvolver todas as áreas do pré-sal ao mesmo tempo.

Em relatório, a corretora Planner ressalta que o problema da Petrobras “não é disponibilidade de óleo para explorar, mas falta de recursos” e lembra que o endividamento cresceu 352% em cinco anos, sem qualquer adição importante de produção.

— Os novos investimentos vão elevar o nível de endividamento. O balanço ainda é pressionado pela defasagem dos combustíveis. Apesar de ser um ano delicado, por conta de eleições, é essencial ter o alinhamento dos preços — afirmou William Araújo, executivo da UM Investimentos.

FOCO NO PRÉ-SAL

Parte do mercado já esperava a contratação direta. Para Pedro Dietrich, do Tozzini Advogados, a questão já vinha sendo considerada desde a criação do regime de partilha em 2010. Na ocasião, diz ele, já se sabia que seria complicado fazer um leilão de áreas que já estão sendo exploradas pela Petrobras.
— Para uma companhia de petróleo, isso é excelente (ter o direito a novas reservas). Agora, vai ter que correr atrás de conseguir mais recursos para os investimentos — destacou Dietrich.

Para Fernando Villela, do Siqueira Castro Advogados, a decisão permitirá reduzir custos nos projetos através de sinergias. Na terça-feira, a Petrobras disse já ter perfurado 17 poços nas áreas da cessão onerosa, sendo 15 deles nos campos onde haverá o excedente. Villela avalia que a Petrobras não terá dificuldade em conseguir recursos para investimentos.

— A Petrobras está passando por um processo de desinvestimento no mundo, justamente para se concentrar na exploração do pré-sal. A produção interna vai aumentar gerando mais caixa, e o primeiro óleo dessas áreas será em 2021. Tem muita água para rolar — brincou Villela.



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