Petrobras:
ANP prevê investimento de US$ 60 bilhões em 35 anos nas áreas cedidas pelo
governo.

RIO - Um dia
depois de o governo anunciar a
contratação direta da Petrobras – sem licitação – para explorar o volume
excedente de petróleo em áreas da cessão onerosa, no pré-sal da Bacia de
Santos, o mercado reagiu com pessimismo. Bancos, corretoras e especialistas
questionaram desde a falta de informações sobre o acordo até a capacidade de a
empresa realizar os investimentos na exploração das áreas, com volume estimado
pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) entre 10 bilhões e 15 bilhões de
barris.
A estatal
terá que pagar R$ 15 bilhões até 2018 – considerando o valor do bônus de
assinatura, que deve ser pago ainda este ano, de R$ 2 bilhões, e R$ 13 bilhões
na antecipação de parte do excedente em óleo. Como a produção deve começar
apenas em 2021, a estatal deve financiar o Tesouro até lá. Como resultado,
especialistas já discutem a hipótese de uma possível capitalização da Petrobras
em 2015, a maior necessidade de aumento nos preços dos combustíveis e alertam
para a dificuldade de viabilizar todos os investimentos do pré-sal.
Com a
percepção negativa do mercado, as ações da Petrobras – cujo endividamento
cresceu 352% em cinco anos – estiveram
entre as maiores quedas da Bolsa de Valores de São Paulo: os papéis
ordinários (com voto) caíram 3,33% e os preferenciais (sem voto) recuaram
1,98%. A estatal perdeu R$ 13,25 bilhões em valor de mercado nos últimos dois
dias, para R$ 217,650 bilhões.
De acordo
com a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, a Petrobras terá de investir em
torno de US$ 60 bilhões durante os 35 anos de duração de contrato para o
desenvolvimento dessas áreas excedentes. A cessão onerosa foi um mecanismo
criado pela União para participar da capitalização da Petrobras em 2010, sem
desembolsar dinheiro. Para isso, cedeu cinco bilhões de barris em áreas do
pré-sal à estatal. Com o tempo, identificou-se um volume maior de petróleo
nessas áreas. É esse excedente que foi negociado.
— Serão US$
60 bilhões em investimentos. O impacto no seu endividamento (da Petrobras) será
pequeno e a produção estará subindo muito. A produção de petróleo tem tudo para
deslanchar — destacou Magda ao GLOBO.
O pagamento
dos R$ 15 bilhões previstos no acordo representarão alta de cerca de 3% dos
investimentos previstos no Plano de Negócios 2014-2018 da Petrobras, que
passarão de US$ 220,6 bilhões para cerca de US$ 227,2 bilhões.
Apesar de a
presidente da estatal, Maria das Graças Foster, afirmar que o efeito do
excedente da cessão onerosa será “suave” em seu Plano de Negócios,
especialistas acreditam que o negócio é ruim para a companhia, pois tende a
elevar o nível de alavancagem (relação entre endividamento líquido e patrimônio
líquido) da empresa, que ficou em 39% no primeiro trimestre, acima do nível
almejado pela companhia, de 35%.
‘SINAL RUIM
PARA AGÊNCIAS DE RATING’
O Banco BTG,
em relatório, afirmou que o novo investimento “aumenta significativamente o
risco de a Petrobras precisar fazer um aumento de capital em 2015”. Além disso,
envia um sinal ruim para as agências de classificação de risco e pode afetar a
perspectiva de aumento de produção no futuro. Pedro Galdi, analista da SLW
Corretora, diz que é possível que a Petrobras tenha de aumentar seu capital no
ano que vem:
— O negócio
é bom para a Petrobras, mas o momento é péssimo. Isso porque vai gerar produção
só em 2021, enquanto a empresa terá que fazer desembolsos até 2018. A companhia
está muito endividada e é atingida por várias notícias ruins.
Procurada, a
Petrobras reafirmou que não fará nova capitalização, já que esse é um dos
pressupostos do Plano de Negócios 2014-2018.
O UBS
questiona também o porquê de a estatal ter feito o anúncio do excedente da
cessão onerosa antes mesmo da comprovação da reserva dos 5 bilhões de barris da
cessão onerosa. Para o UBS, a Petrobras pode não conseguir desenvolver todas as
áreas do pré-sal ao mesmo tempo.
Em
relatório, a corretora Planner ressalta que o problema da Petrobras “não é
disponibilidade de óleo para explorar, mas falta de recursos” e lembra que o
endividamento cresceu 352% em cinco anos, sem qualquer adição importante de
produção.
— Os novos
investimentos vão elevar o nível de endividamento. O balanço ainda é
pressionado pela defasagem dos combustíveis. Apesar de ser um ano delicado, por
conta de eleições, é essencial ter o alinhamento dos preços — afirmou William
Araújo, executivo da UM Investimentos.
FOCO NO
PRÉ-SAL
Parte do
mercado já esperava a contratação direta. Para Pedro Dietrich, do Tozzini
Advogados, a questão já vinha sendo considerada desde a criação do regime de
partilha em 2010. Na ocasião, diz ele, já se sabia que seria complicado fazer
um leilão de áreas que já estão sendo exploradas pela Petrobras.
— Para uma
companhia de petróleo, isso é excelente (ter o direito a novas reservas).
Agora, vai ter que correr atrás de conseguir mais recursos para os
investimentos — destacou Dietrich.
— A
Petrobras está passando por um processo de desinvestimento no mundo, justamente
para se concentrar na exploração do pré-sal. A produção interna vai aumentar
gerando mais caixa, e o primeiro óleo dessas áreas será em 2021. Tem muita água
para rolar — brincou Villela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente esta matéria!