Alcino e
Priscila precisaram se reconquistar e tiveram dois 'primeiros beijos'.
'Não tinha lembrança, mas o amor estava ali', conta Alcino.
'Não tinha lembrança, mas o amor estava ali', conta Alcino.

Na madrugada
do dia 18 de janeiro deste ano, Alcino Garajau acordou com vontade de ir ao
banheiro, mas não sabia quem era a mulher que estava ao lado dele, nem mesmo
onde ficava o banheiro. Não se lembrava do próprio nome, nem sabia que a
criança que chorava no quarto ao lado era sua filha. Por dois meses, ele ficou
sem se lembrar de nada, conhecendo a própria história por fotos e confiando no
que dizia aquela mulher que estava ao lado dele desde que acordou.
"Mesmo
sem conhecê-la, eu me sentia muito confortável ao lado dela. Não tinha
lembrança, mas o amor estava ali", conta. E foi o amor que deu à Priscila
Damasceno toda a calma e paciência para reconquistar Alcino e ajudá-lo na
recuperação. Neste Dia dos Namorados, o casal celebra o 'novo começo' feliz,
bem longe do final.
Alcino e
Priscila tiveram dois 'primeiros beijos': antes e depois da perda de memória.
Mas Alcino brinca dizendo que, mesmo sem lembrar do primeiro beijo, o segundo
foi ainda melhor.
"Confiava
nela, mesmo com tudo muito confuso na minha cabeça. Via a dedicação dela. Nossa
filha Cristina tinha poucos meses e eu via a Priscila tendo que cuidar de duas
crianças: eu e ela. Vi o amor que ela tinha por mim e pela nossa família. Um
dia chamei a Priscila para sair, porque eu sentia vontade de conhecê-la como
mulher. Fomos dar uma volta na praia, em Vitória, e tudo aconteceu
naturalmente, rolou o 'primeiro' beijo. E foi 'o' beijo", conta Alcino.
Para
Priscila, o momento não foi menos especial. "Confesso que estava com muito
medo. A expectativa era grande. Quando saímos para conversar na praia, acabou
acontecendo naturalmente. E foi muito bom!", lembra.
O susto
No dia em que Alcino acordou sem memória, a reação dos dois foi de susto. Ele chorou muito, entrou em desespero e não queria sair do quarto. "Ver minha filha foi um baque. Ela estava chorando, a Priscila a acalmou e me apresentou para ela. O impressionante foi que ela também não me reconheceu. Ela sabia que não era a mesma pessoa, que o pai dela não estava ali. Fomos reconquistando um ao outro, construindo o relacionamento de pai e filha", diz.
Priscila
conta que mostrou a aliança dos dois, para ele ver que eram iguais. Trouxe
fotos de momentos vividos juntos, mostrou a filha e fez de tudo para que ele
confiasse nela e tentasse recuperar a memória.
"Fomos
a vários médicos e eles disseram que o problema poderia ser psicológico, que
poderia ser estresse e até hoje não sabemos ao certo a causa da perda de
memória. Mas o tempo todo eu tive uma paciência incomum, uma calma de Deus,
para tentar fazer ele lembrar as coisas", conta Priscila.

(Foto: Rafael Zambe/ G1 ES)
A primeira
lembrança
Depois de dois meses, alguns flashes de memória começaram a aparecer. E a primeira lembrança que Alcino teve de Priscila foi do dia em que a viu pela primeira vez.
"Lembrei-me
da escada. Eu trabalhava em uma gráfica, ela é jornalista e toda semana a gente
se falava por telefone para resolver coisas de trabalho. A primeira vez que ela
foi lá na gráfica, eu saí para atendê-la. Lembro que desci a escada e a vi pela
primeira vez. Fiquei bobo, não sabia o que dizer. E quando lembrei, tudo voltou
à tona, fiquei bobo novamente", diz.
Os flashes
foram ficando mais frequentes e as conversas o ajudavam a ter cada vez mais
lembranças. "Lembranças e não só esperança. Isso foi o mais surpreendente
no começo, porque é agoniante perder a memória. Como tentar lembrar uma palavra
que você conhece, ou o nome de um ator, e não conseguir. Imagina isso o tempo
todo, para tudo. Eu tinha esperança de lembrar sempre que as pessoas falavam
comigo. E quando comecei a lembrar, ficava em dúvida se era lembrança mesmo ou
esperança".
Com medo de
perder a memória novamente, Alcino passou a anotar tudo o que fazia durante o
dia, em um diário. "Peguei um caderno e escrevia nele tudo o que fazia.
Quase compulsivamente. Tinha muito medo de perder a memória novamente e
escrever me dava uma certa segurança. Notei que minha caligrafia é diferente de
antes da perda de memória", conta.
O presente
Até hoje não se sabe ao certo o que causou a perda de memória de Alcino. Os médicos atribuem ao estresse e ao psicológico. Um diagnóstico recente mostrou que ele tem uma veia entupida na cabeça, que provoca dores constantes e prejudica o sono. O médico investiga se há ligação entre os casos, mas Alcino deve passar por cirurgia nos próximos dias.
"Nossa
filha está com 11 meses, nós mudamos de casa, para ficar mais perto da família.
Alcino não pode andar sozinho, porque pode ter vertigem ou até mesmo perder a
memória novamente, segundo os médicos. Mas estamos juntos e felizes. Hoje,
nosso relacionamento está mais forte. E eu espero que nosso amor dure para
sempre", diz Priscila.

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