sábado, 17 de maio de 2014

A DESCOBERTA DO VÍRUS DA AIDS

 HOJE É, 17 DE MAIO DIA DA DESCOBERTA.


  Em 17 de maio de 2000 - Os cientistas Luc Montagnier e Robert Gallo recebem o Prêmio Príncipe de Austúrias de Investigação Científica e Técnica 2000 por seu descobrimento do vírus da AIDS.




O vírus da Aids foi identificado em dois anos e meio. Jamais uma doença infecciosa teve sua causa esclarecida em período tão curto. A autoria da descoberta, no entanto, foi cercada de controvérsias entre dois grupos: o de Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, na França, e o de Robert Gallo, do National Cancer Institute (NCI), nos EUA.
Em 2002, a revista “Science” pediu aos dois protagonistas que contassem suas versões a respeito dos acontecimentos que levaram à descoberta.

Ao surgirem os primeiros casos de Aids em São Francisco e Nova York, Gallo suspeitou que um retrovírus fosse o responsável pela infecção. Segundo Montagnier, “essa idéia cruzou o Atlântico” e foi encontrá-lo em Paris no final de 1982 pesquisando retroviroses em culturas de glóbulos brancos por meio de uma técnica desenvolvida anos antes por Gallo, no NCI.

Em janeiro de 1983, Montagnier cultivou células obtidas por biópsia de um gânglio de um jovem homossexual francês que apresentava ínguas pelo corpo. No rótulo da amostra foram colocadas as iniciais do paciente: BRU. Poucos meses depois, recebeu amostras de sangue de outro paciente homossexual (iniciais LAI) portador de um tipo de câncer associado à Aids.

Tanto no gânglio de BRU como no sangue de LAI foi possível isolar um retrovírus. No microscópio eletrônico, o grupo francês conseguiu enxergar o vírus isolado e reconhecer nele particularidades que o diferenciavam dos demais retrovírus conhecidos. Em maio de 1983, Montagnier e seu grupo publicaram o que hoje é considerado o primeiro relato sobre o isolamento do HIV.

A tarefa de manter os vírus de BRU e LAI em culturas duradouras, entretanto, mostrou-se problemática: enquanto LAI fornecia culturas de crescimento relativamente fácil, cultivar o vírus de BRU parecia impossível. Em outubro de 1983, finalmente, foram obtidas algumas culturas de BRU e enviadas para estudos em seis laboratórios diferentes. Um deles foi o laboratório de Gallo.


Pessoa infectado.

Dada a facilidade que os vírus têm de contaminar culturas, mesmo nas mãos dos virologistas mais cuidadosos, as culturas catalogadas como BRU, que tinham sido
tão difíceis de crescer, na verdade só puderam ser obtidas porque haviam sido
contaminadas inadvertidamente pelos vírus de LAI. Assim, as amostras enviadas
com o rótulo de BRU continham também o vírus de LAI, que era contaminante.
Em fevereiro de 1983, o francês Jacques Leibowitch chegou de Paris para visitar
o laboratório do NCI com amostras de sangue colhidas de pacientes com Aids.
Numa delas, retirada de um homem cujas iniciais eram CC, foram isolados dois
retrovírus diferentes: um era o HTLV-1 (descoberto anteriormente pelo próprio
Gallo em leucemias e linfomas), o outro era uma forma aberrante, posteriormente
caracterizada como HIV.

Com o refinamento das técnicas, Mika Popovic, assistente de Gallo, foi capaz de
cultivar outros isolados virais obtidos de pacientes americanos. Entre eles, os
que foram identificados pelas siglas RF, IIIB e MN passaram a ser usados por
vários pesquisadores e conduziram às demonstrações de que o HIV era realmente o
agente da Aids.

Por crescer com mais facilidade em cultura de linfócitos, a amostra IIIB foi
selecionada por Gallo e seu grupo para o desenvolvimento do teste que
permitiria identificar os portadores de HIV. No final de 1984, esse teste foi
padronizado e, no ano seguinte, colocado à disposição do mercado. Foi um enorme
avanço no combate à epidemia.

Gallo voou para Paris levando a amostra IIIB para que o grupo francês o
comparasse com os isolados BRU e LAI. Combinaram de organizar uma reunião com a imprensa caso ficasse claro que os isolados IIIB, BRU e LAI continham o agente
da Aids. Não houve tempo. Margareth Heckler, que ocupava o cargo equivalente ao
de ministro da Saúde no Brasil, convocou-o a participar de uma reunião com a
imprensa para anunciar a descoberta do HIV sem a participação dos pesquisadores
da França.

O governo francês reagiu. Criou-se um litígio internacional em torno dos
direitos de patente, que culminou com um acordo firmado entre os presidentes
Ronald Reagan e Jacques Chirac, que estabelecia que o Instituto Pasteur e o NCI
dividiriam em partes iguais o dinheiro obtido. Por serem funcionários públicos,
os pesquisadores envolvidos nas descobertas não receberiam nada.

Para aumentar a confusão, aconteceu que a amostra IIIB, selecionada por Gallo
para a obtenção do teste da Aids, continha o vírus da amostra cedida por
Montagnier com o rótulo BRU (que, por sua vez, fora contaminada no próprio
Instituto Pasteur pelo vírus contido na amostra LAI). O que os americanos
chamavam de IIIB continha o vírus que os franceses chamavam de BRU, mas que era
uma mistura de BRU com LAI.

A demonstração de que o vírus IIIB, usado para desenvolver o teste, tivera
origem no Instituto Pasteur colocou Gallo e Popovic sob suspeição. Gallo
argumentou que jamais suspeitara da contaminação e que essa mesma amostra havia
contaminado outros isolados em alguns dos melhores centros de virologia
americanos, mas a argumentação foi de pouca valia. Popovic foi obrigado a
emigrar para a Suécia atrás de trabalho e Gallo foi submetido a uma
investigação por parte das autoridades científicas americanas, que envolveu até
investigadores do FBI.

Chegou a estar ameaçado de ir para a cadeia, mas prevaleceu o bom senso. Robert
Gallo é um dos grandes cientistas da atualidade. Em seu laboratório, foram
dados alguns dos principais passos que permitiram decifrar os mecanismos pelos
quais o HIV invade os glóbulos brancos e usá-los como estratégia para a
obtenção de uma vacina capaz de produzir imunidade duradoura. Montagnier foi
aposentado por idade no Instituto Pasteur e acabou contratado por uma apagada
universidade americana.


Hoje, todos admitem que o vírus da Aids foi descoberto por Montagnier, Gallo e
Jay Levy, que, concomitantemente, isolou o HIV na Universidade da Califórnia
-mas, sabiamente, sem se deixar envolver nessa disputa de interesses tão alheia
à ciência.

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