Esmagado nas
urnas, Partido do Congresso sequer terá a liderança da oposição no Parlamento

NOVA DÉLHI O
Partido do Congresso (CNI), liderado por membros da dinastia Nehru-Gandhi, que
governou a Índia durante a maior parte dos 67 anos de independência do país,
sofreu a mais acachapante derrota de sua história. Após o resultado da apuração
das eleições parlamentares, o CNI sequer conseguiu os 10% das cadeiras
necessários (54 das 543 do Parlamento) para ser reconhecido, oficialmente, como
a liderança da oposição ao governo de Narendra Modi, cujo Partido do Povo da
Índia (BJP) venceu por esmagadora maioria. O Partido do Congresso elegeu apenas
43 parlamentares. O massacre eleitoral foi tamanho que o BJP tornou-se o
primeiro partido de oposição da história indiana a conquistar sozinho — sem
considerar as alianças — mais da metade dos assentos do Parlamento.
Na última
década, o poder da dinastia foi desgastado por um fraco desempenho econômico da
Índia, com seguidas quedas do PIB — o crescimento econômico anual caiu de 7%
para 4,5% — além de frequentes escândalos de corrupção. Ao mesmo tempo, Rahul
Gandhi, vice-presidente do Partido do Congresso, que teve a candidatura lançada
pela mãe, Sonia, presidente do CNI, fez uma campanha eleitoral considerada
fraca por analistas políticos, e mesmo por aliados.
Ambos eram
alvos constantes dos ataques retóricos de Modi. A popularidade do CNI entrou em
queda livre, e até parte das camadas mais pobres da população, sempre
beneficiadas pelos programas sociais do Partido do Congresso, passou a apoiar
Modi. O triunfo do BJP reformula o cenário político indiano, transformando o
Partido do Povo da Índia em potência política nacional, ao mesmo tempo em que
reduz consideravelmente a influência do CNI.
—
Respeitamos esta decisão. Vitória e derrota fazem parte da democracia. Assumo
minhas responsabilidades nesta derrota — declarou Sonia, em entrevista
coletiva.
A seu lado,
Rahul, que tentava não demonstrar abatimento com a derrota, acrescentou:
— Gostaria
de começar felicitando o novo governo. O povo outorgou-lhe um mandato. Fizemos
(uma campanha) bastante ruim. Como vice-presidente do CNI, assumo minha
responsabilidade — disse ele.
Rahul é
bisneto, neto e filho de primeiros-ministros. Seu bisavô, Jawaharlal Nehru, foi
o primeiro premier da Índia independente. Sua avó, Indira, e seu pai, Rajiv,
também ocuparam o cargo, e ambos foram assassinados — ela ainda no cargo, e,
1984, e ele em campanha para retornar ao poder, em 1991.
Apesar do
fracasso geral do CNI, Sonia e Rahul conseguiram manter suas cadeiras. Mas
Rahul, de 43 anos, ainda sofreria uma humilhação quando um grupo de partidários
reunidos em frente à sede do partido, na capital, Nova Délhi, gritou: “Tragam
Priyanka! Salvem o Congresso”, em referência à irmã mais nova dele, vista como
uma política mais carismática.
Além da
fraca capacidade política de Rahul, o editor do jornal “The Indian Express”,
Shekhar Gupta, ressalta a renovação do eleitorado, que ele classifica como
“indianos pós-ideológicos”.
— Estas
pessoas nasceram após o assassinato de Indira Gandhi. O que está guardado na
memória deles são os últimos anos de desgoverno, com a perda maciça de postos
de trabalho.
O
historiador indiano Ramachandra Guha ratifica a análise:
— O contexto
foi favorável à oposição. O rival de Modi (Rahul) não é um bom orador. E a
grande mudança que ocorre na Índia está deixando a sociedade mais democrática e
menos feudal. É possível que Rahul e Priyanka Gandhi nem reavivem o CNI, porque
a Índia está seguindo em frente.
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