sábado, 17 de maio de 2014

Após décadas de hegemonia, dinastia Nehru-Gandhi fica até sem a liderança da oposição

Esmagado nas urnas, Partido do Congresso sequer terá a liderança da oposição no Parlamento

Vexame nas urnas. A presidente do CNI, Sonia Gandhi, e o vice, seu filho Rahul Gandhi, asumiram a derrota
Foto: ANINDITO MUKHERJEE/REUTERS

NOVA DÉLHI O Partido do Congresso (CNI), liderado por membros da dinastia Nehru-Gandhi, que governou a Índia durante a maior parte dos 67 anos de independência do país, sofreu a mais acachapante derrota de sua história. Após o resultado da apuração das eleições parlamentares, o CNI sequer conseguiu os 10% das cadeiras necessários (54 das 543 do Parlamento) para ser reconhecido, oficialmente, como a liderança da oposição ao governo de Narendra Modi, cujo Partido do Povo da Índia (BJP) venceu por esmagadora maioria. O Partido do Congresso elegeu apenas 43 parlamentares. O massacre eleitoral foi tamanho que o BJP tornou-se o primeiro partido de oposição da história indiana a conquistar sozinho — sem considerar as alianças — mais da metade dos assentos do Parlamento.

Na última década, o poder da dinastia foi desgastado por um fraco desempenho econômico da Índia, com seguidas quedas do PIB — o crescimento econômico anual caiu de 7% para 4,5% — além de frequentes escândalos de corrupção. Ao mesmo tempo, Rahul Gandhi, vice-presidente do Partido do Congresso, que teve a candidatura lançada pela mãe, Sonia, presidente do CNI, fez uma campanha eleitoral considerada fraca por analistas políticos, e mesmo por aliados.

Ambos eram alvos constantes dos ataques retóricos de Modi. A popularidade do CNI entrou em queda livre, e até parte das camadas mais pobres da população, sempre beneficiadas pelos programas sociais do Partido do Congresso, passou a apoiar Modi. O triunfo do BJP reformula o cenário político indiano, transformando o Partido do Povo da Índia em potência política nacional, ao mesmo tempo em que reduz consideravelmente a influência do CNI.

— Respeitamos esta decisão. Vitória e derrota fazem parte da democracia. Assumo minhas responsabilidades nesta derrota — declarou Sonia, em entrevista coletiva.
A seu lado, Rahul, que tentava não demonstrar abatimento com a derrota, acrescentou:
— Gostaria de começar felicitando o novo governo. O povo outorgou-lhe um mandato. Fizemos (uma campanha) bastante ruim. Como vice-presidente do CNI, assumo minha responsabilidade — disse ele.

partidários pedem irmã
Rahul é bisneto, neto e filho de primeiros-ministros. Seu bisavô, Jawaharlal Nehru, foi o primeiro premier da Índia independente. Sua avó, Indira, e seu pai, Rajiv, também ocuparam o cargo, e ambos foram assassinados — ela ainda no cargo, e, 1984, e ele em campanha para retornar ao poder, em 1991.

Apesar do fracasso geral do CNI, Sonia e Rahul conseguiram manter suas cadeiras. Mas Rahul, de 43 anos, ainda sofreria uma humilhação quando um grupo de partidários reunidos em frente à sede do partido, na capital, Nova Délhi, gritou: “Tragam Priyanka! Salvem o Congresso”, em referência à irmã mais nova dele, vista como uma política mais carismática.
Além da fraca capacidade política de Rahul, o editor do jornal “The Indian Express”, Shekhar Gupta, ressalta a renovação do eleitorado, que ele classifica como “indianos pós-ideológicos”.
— Estas pessoas nasceram após o assassinato de Indira Gandhi. O que está guardado na memória deles são os últimos anos de desgoverno, com a perda maciça de postos de trabalho.
O historiador indiano Ramachandra Guha ratifica a análise:

— O contexto foi favorável à oposição. O rival de Modi (Rahul) não é um bom orador. E a grande mudança que ocorre na Índia está deixando a sociedade mais democrática e menos feudal. É possível que Rahul e Priyanka Gandhi nem reavivem o CNI, porque a Índia está seguindo em frente.

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